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A ressaca da Primavera Secundarista

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Um ano depois das ocupações em escolas de todo o país, a reforma do ensino médio foi aprovada e investimentos em educação foram cortados, escreve Helena Borges, do Intercept Brasil.

Enquanto aqueles que viam a educação como uma mercadoria começam a recolher os lucros, os secundaristas que participaram das ocupações tendo como lema “Educação não é Mercadoria” hoje sofrem com uma dupla onda reacionária: dentro e fora das escolas.

O avanço da elite financeira sobre a educação e sobre a rede pública era um dos principais temores dos jovens que se apossaram das escolas em outubro de 2016. A “Primavera Secundarista” é lembrada pelos estudantes como um sopro de esperança que passou pelos colégios. Agora, eles relatam viver um momento de nostalgia e letargia — consequências da opressão policial autorizada pela justiça e do trator governista que o atropelou no Congresso, impondo mudanças sem sequer abrir canal para o diálogo.

“Nas ocupas, já se falava que o lucro vem acima de tudo, que o desmonte da educação pública interessava a quem queria criar mercado para a iniciativa privada”, conta Moreno de Mello, 18 anos, que participou de três ocupações em Brasília.

A reportagem registra que fatores que motivaram a “Primavera Secundarista” continuam a preocupar os estudantes: a aprovação da reforma pelo Congresso, o congelamento do orçamento federal e a crescente força do “Escola sem Partido”.

Ana Julia Ribeiro, a adolescente que ficou famosa pelo discurso defendendo as ocupações na Assembleia Legislativa do Paraná, falou ao telefone com The Intercept Brasil. Ela admitiu que, no Colégio Estadual Senador Manoel Alencar Guimarães (CESMAG), em Curitiba, onde ainda estuda, as coisas não mudaram muito: “As mudanças foram de um ou outro professor que se identificou um pouco mais com a causa”.

A única transformação perceptível, conta a paranaense de 17 anos, foi o aumento no número de alunos: “Uma escola particular da área já mudou o modelo de ensino para o da reforma, e o pessoal está indo para o meu colégio. Chegaram a abrir uma turma a mais”.

Apesar de reconhecer que muitos alunos estão desanimados ou, como ela, mais focados no Enem, Ana Julia diz que não vê a situação atual do movimento estudantil como uma derrota. Ela acredita que as ocupações plantaram uma semente em cada um dos participantes e que seus efeitos serão sentidos ao longo do tempo. E interpreta o momento de silêncio das ruas como uma pausa para reorganização: “Agora teremos que pensar em novos formatos de luta, esse é o grande desafio”.

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