A anunciada fragmentação do pleito presidencial de 2018 será sentida em especial no campo da esquerda. Além das esperadas candidaturas de Ciro Gomes (PDT), de Manuela D’Avila (PC do B) e, possivelmente, Lula (PT), entre outros menos cotados, o PSOL sinaliza com uma novidade política. A agremiação poderá lançar o ativista Guilherme Boulos.
Filósofo, psicólogo e professor, Guilherme Boulos nasceu na capital paulista em meados de 1982. Oriundo de uma família de classe média alta (seu pai é considerado um dos maiores infectologistas do país), Boulos ingressou em 2002 no Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). Desde então, é uma das principais lideranças e referências do movimento.
Em 2003, ficou conhecido nacionalmente ao coordenar a invasão de um terreno da Volkswagen em São Bernardo do Campo (SP). Também notabilizou-se em protestos contra a realização da Copa do Mundo de Futebol no Brasil, em 2014. Boulos é um dos coordenadores da Frente Povo sem Medo, que lançou a plataforma “Vamos” para debater um projeto para o Brasil.
Desafetos não faltam no currículo de Boulos, mesmo na esquerda. Chamado por muitos de “coxinha extremista” ou de “radical chique”, ele tem suas origens e ações contestadas por diversos formadores de opinião. Mesmo assim, é inegável a qualidade de seu discurso, eloquente e enfático. Seja falando aos sem teto, proferindo palestra na prestigiada Universidade de Columbia ou concedendo entrevista para a Globonews, Boulos consegue deixar sua marca.
Mas o que pretende o ativista com sua possível candidatura à presidência da República? Quais os riscos e oportunidades vislumbrados por ele e seus apoiadores?
O alvo inicial de Boulos e do PSOL será o eleitor de esquerda que se desencantou com os “desvios éticos” e com as “concessões ao mercado” dos governos petistas. A campanha, caso ocorra, tentará deixar claras as diferenças entre as propostas do PSOL e do PT. Não por acaso, aliados de Lula têm criticado Boulos por este estar promovendo uma “divisão” na esquerda.
As propostas do PSOL são radicais. Revisão dos programas de privatização e de concessão, controle dos mercados de capitais, regulação da mídia, estabelecimento de programas sociais mais efetivos e, bem ao gosto de Boulos, reformas agrária e urbana “efetivas”.
Os obstáculos para uma eventual campanha serão muitos. Reduzido tempo de propaganda em rádio e televisão, pouco dinheiro em caixa, estrutura precária (afinal, o PSOL é um partido pequeno) e a desconfiança dos mercados desafiarão Boulos. Ele espera que a militância, em especial nas redes sociais, supere isso. Talvez seja pouco.
Claro está que a imensa maioria do eleitorado, que o considera apenas um “agitador”, jamais votará no potencial candidato. Caso atinja 5% dos votos válidos e aumente a bancada federal do PSOL, ele poderá considerar-se vitorioso. Independentemente disso e pensando em Lula, o eterno guia da esquerda brasileira (disputa eleições desde 1982), a entrada de Boulos no processo representa algum tipo de renovação.