Texto de Karla Pequenino
Queremos privacidade, mas não paramos de partilhar informação. Cada vez que utilizamos o smartphone, andamos com ele no bolso, ou abrimos uma página na Internet, deixamos “pegadas digitais”. Eis os que os gigantes da Internet sabem de nós:
Idade e género, mesmo que não tenhamos preenchido esses dados no nosso perfil. O Twitter explica o processo nas suas definições, ao lado da informação que escreve sobre nós: “Se não adicionou um gênero, esta é que está mais associada à sua conta com base no seu perfil e atividade”. A informação não é pública, mas chega aos anunciantes.
A nossa localização, a partir das nossas fotografias ou do smartphone que vai conosco para todo o lado. Há um site inglês (Eu sei onde seu gato vive) que mostra como se pode descobrir onde alguém está a partir de fotografias que publica do seu gato. O mapa do site utiliza os metadados nos ficheiros: ou seja, informação como a origem e data de uma fotografia que é criada automaticamente por câmaras digitais, ou telemóveis. A precisão do site é de 7,8 metros.
Os serviços de mapas da Apple e do Google também têm serviços que mostram, dia após dia, todos os sítios por onde passamos e se viajamos a pé, de carro, ou de transportes públicos. Basta andar com um telemóvel que acedeu a uma conta destes gigantes. Os sistemas podem ser desativados, mas tendem a passar despercebidos.
As nossas pesquisas anônimas. As janelas de navegação privadas dos motores de busca –seja o Chrome, o Bing ou o Edge – não são completamente privadas e continuam a ser utilizadas para cookies. São pequenos ficheiros colocados nos computadores dos utilizadores que seguem a atividade online de quem visitava uma página.
A nossa voz. O Google regista o som da nossa voz quando utilizamos a assistente virtual da empresa, ou ativamos o gravador do Google tradutor. A informação é usada para melhorar o sistema de reconhecimento de voz, mas também para a empresa “aprender o som” da nossa voz individual e a nossa maneira única de dizer palavras.
Interesses, gostos e crenças dos nossos amigos que partilhamos com o Facebook, quando utilizamos uma aplicação. “As pessoas que podem ver a tua informação também podem levá-la consigo quando utilizam aplicações”, lê-se nas definições do site que podem ser alteradas, mas passam despercebidas.
A informação está toda nas definições de privacidade destes sites. É este tipo de informação que permite esquemas como o da Cambridge Analytica de funcionarem. É importante ler as letras pequeninas.
(Karla Pequenino trabalha no Público)