Ícone do site Misto Brasil

O clã que surfa na onda do pai

Compartilhe:

O apelido Bolsonaro saiu das franjas da política brasileira. Jair, o candidato presidencial do Partido Social Liberal (PSL), está com um pé no Palácio do Planalto. Mas com ele emergiram também os seus filhos, que estão na política há alguns anos, escreve Manuel Louro, do Público.

Ao todo, os três Bolsonaro reuniram 55,5 milhões de votos no primeiro turno. Este clã deixou de ser politicamente periférico e está perto de se tornar o mais influente do Brasil.

Flávio, Carlos e Eduardo Bolsonaro são nomes que se tornaram conhecidos no Brasil à boleia do pai, Jair, deputado federal há 27 anos. São muito poucas as diferenças entre as visões políticas, sociais e econômicas deste quarteto. Se o patriarca chegar à presidência, o clã Bolsonaro vai estar espalhado um pouco por todas as esferas do poder. E o potencial presidente contará com poderosos aliados.

O mais velho, Flávio, de 37 anos, era até aqui deputado no Rio e foi eleito para o Senado. Carlos, de 35 anos, foi o único dos três que não concorreu este ano, tendo sido eleito para o quinto mandato como vereador do Rio em 2016. Eduardo, de 34 anos, foi reeleito deputado federal no primeiro turno com um recorde de votos a nível nacional. À semelhança do pai, todos têm um historial de polêmicas.

As dinastias políticas não são novas no Brasil. Por exemplo, nas eleições de 2014, segundo um estudo da organização independente Transparência Brasil, 49% dos 523 deputados federais eleitos tinham relações familiares como outros políticos. Entre os deputados com menos de 35 anos, supostamente a faixa etária que representaria uma renovação, 85% eram familiares de políticos.

No primeiro turno das eleições deste ano, até houve um crescimento na chamada “bancada de parentes”. De acordo com os dados do órgão de assessoria parlamentar, o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar, em 2014, eram 113 os deputados e senadores com parentesco político. Neste momento, o número é de 138.

Há outros especialistas, no entanto, que destacam o fato de as dinastias políticas serem normais em vários países, principalmente na América Latina (os Kirchner na Argentina ou os Fujimori no Peru) e nos Estados Unidos (como as famílias Kennedy, Bush ou Clinton).

O clã dos BolsonaroFlávio Bolsonaro entrou na política em 2003, quando foi eleito deputado estadual no Rio de Janeiro, cargo que ocupou até ao dia 7 de Outubro deste ano. Foi eleito no primeiro turno para o Senado, tendo sido o candidato mais votado do Rio de Janeiro. Em 2016, ainda tentou subir mais uns degraus candidatando-se pelo PSL à Câmara do Rio, mas ficou num modesto 4.º lugar.

No prazo de dois anos, Flávio passou de pouco mais de 420 mil votos no eleitorado carioca para mais de quatro milhões, representando também o crescimento “bolsonarista” nos últimos tempos.

Há poucas diferenças nos discursos dos Bolsonaro. Aquilo que é defendido por Flávio e Jair também o é por Eduardo, de 35 anos.

Foi reeleito nestas eleições como deputado federal por São Paulo, tendo sido o deputado mais votado da história no país, conquistando quase dois milhões de votos. Foi eleito pela primeira vez para a Câmara dos Deputados em 2014, com mais de 80 mil votos, tendo sido colega do pai desde então. A sua votação este ano no estado paulista foi 22,5 vezes maior.

Nas funções de deputado, apresentou várias propostas de projetos de lei, tais como elevar o piloto de Fórmula 1, Ayrton Senna, a estatuto de herói nacional ou a proibição do comunismo. Ao todo, apresentou 37 projetos de lei e duas propostas de emendas à Constituição, sendo um terço destas feito em co-autoria com o pai. Conseguiu aprovar uma.

Também teve voz na campanha presidencial depois da facada sofrida pelo pai. A revista IstoÉ descreveu-o como o “pitbull da família Bolsonaro”.

Aos 35 anos, Carlos Bolsonaro está no seu quinto mandato como vereador do Rio de Janeiro. Foi reeleito para o cargo nas eleições locais de 2016, pelo que não entrou nas deste ano. Conta também no seu currículo com um recorde: ao ter sido eleito pela primeira vez em 2000, com 17 anos, tornou-se o vereador mais novo da história no Rio.

Nessas primeiras eleições venceu a própria mãe, Rogéria, primeira mulher de Jair. Segundo foi noticiado, foi o próprio patriarca que lançou o filho para concorrer contra a mãe, depois de um divórcio litigioso. “Nas questões polêmicas, ela deveria falar comigo para decidir o voto dela. Mas começou a frequentar o plenário e passou a ser influenciada pelos outros vereadores. Eu elegi-a. Ela tinha de seguir as minhas ideias. Acho que sempre fui muito paciente, mas ela não soube respeitar o poder e a liberdade que lhe dei”, explicava o agora candidato presidencial. Na campanha deste ano, Rogéria utilizou as redes sociais para defender e apoiar o ex-marido.

Sair da versão mobile