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O medo e a paciência

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O poeta Fabrício Carpinejar no seu livro “Pais e filhos, maridos e esposas” escreve num trecho que o “meu maior medo é escrever para não pensar”, depois de citar uma série de medos que rondam nosso cotidiano. Carpinejar despertou sua sensibilidade para coisas simples que acabam sendo esquecidas por nós. Detalhes que fazem a diferença para uma convivência em comum no enredo familiar e pessoal.

Ele destaca questões como a atenção aos pais e admite que, até certo ponto da sua vida, se comportava como um inimigo deles. Não entendia gestos simples como quando a sua mãe pedia para não esquecer de devolver o pote de comida que levava ao trabalho. Achava aquilo um absurdo, uma falta de confiança.

Numa entrevista que concedeu a um programa da Rádio CBN, o poeta disse compreendeu aquele pedido nada mais era do que uma forma da mãe pedir que fizesse uma nova visita. Era um convite para que voltasse a visitar os pais.

Nossa paciência é cada vez menor. Pequenas coisas já não tem lugar e nos tornamos insensíveis e, como diz o poeta, “meu maior medo é a expectativa de dar certo na família, que não me deixa ao menos dar errado”.

Sobre os pais velhos, ignoramos o passado. Quando faziam de tudo para nos atender e se não faziam tudo é porque não podiam. A vida dura na infância às vezes nos leva a pensar quando adultos que eles estavam errados.

E quando velhos, nos tornamos um estorvo na concepção dos jovens. E muitos deles – como escreveu Carpinejar – o seu maior medo é escavar a noite para encontrar um par e voltar mais solteiro do que antes.

Mais paciência e menos intolerância. A vida é dura, mas pode ser melhor.

E para fechar esta segunda-feira, com a data venia do poeta, ficamos com esta frase: “Nossa alegria não significa que estamos amando. Pode significar que podemos amar”.

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