Albrecht Ritschl é historiador da economia e professor na London School of Economics desde 2007. Em entrevista à DW, Ritschl explicou que o principal efeito de crises, como o mundo vivencia agora com a pandemia do coronavírus são mudanças industriais e setoriais nas formas de trabalho.
O exemplo típico disso é o trabalho remoto, apontou o historiador. “Posso muito bem imaginar que grande parte dessa forma de trabalho vai prosseguir. Todas as grandes guerras, todas as grandes crises levaram a uma mudança na forma de produção”.
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O especialista apontou ainda que o verdadeiro motor da recuperação de uma crise está na dívida pública. “Se um país tinha um nível relativamente baixo de endividamento antes do início dessa crise e, portanto, também opções de ação em termos de política fiscal, então se pode sair mais fácil e rapidamente dela”.
Veja alguns tópicos da entrevista
“O que vemos agora em nível internacional é a questão do “dinheiro de helicóptero” (injeções diretas de dinheiro no bolso dos consumidores para que eles gastem rapidamente). Por exemplo, nos EUA. Mas, em princípio, o subsídio para compensar parcialmente a redução dos salários na Alemanha é nada mais do que isso.
Isso é algo que também se conhece das guerras mundiais. Basicamente, trata-se de uma tentativa de extinção de incêndio financeira. É um ato reativo ‒ mas sem nenhum poder real de moldar a economia. A grande questão está nas medidas de contenção e seus efeitos. O remédio é pior do que a doença? Atualmente, esse é tema de acirrado debate”.
“A Primeira Guerra Mundial: o fortalecimento da mão de obra feminina, o reconhecimento dos sindicatos, o reconhecimento da jornada de trabalho de oito horas, a introdução do sufrágio universal.
A década de 1930 foi uma tentativa violenta de fazer voltar a roda da história. Após a Segunda Guerra Mundial, vimos a concretização da produção industrial em massa, a ascensão da sociedade de consumo, o acesso em grande escala a uma melhor educação. Esses são todos exemplos de mudanças após crises econômicas”.
“O verdadeiro motor da recuperação de uma crise está na dívida pública. Se um país tinha um nível relativamente baixo de endividamento antes do início dessa crise e, portanto, também opções de ação em termos de política fiscal, então se pode sair mais fácil e rapidamente dela.
Os países onde esse não é o caso acabam geralmente tendo dificuldades com o descontrole da dívida pública no final de uma crise. O sul da Europa após a crise financeira de 2008 é o exemplo clássico e continuará sendo agora”.