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Resistência democrata quer emperrar um acordo comercial Brasil–EUA

Embaixador Nestor Foster

Nestor Foster começou uma ofensiva no Congresso dos EUA para reverter situação comercial/Arquivo/Divulgação/Arquivo/Divulgação

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Texto de Marcelo Rech

No dia 3 de junho, o Comitê de Assuntos Tributários da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, liderada pelo democrata Richard Neal, enviou uma carta ao representante comercial dos Estados Unidos, Robert Lighthizer, pedindo que o país não avance nos entendimentos para um amplo acordo comercial com o Brasil.

Na justificativa, as supostas violações de direitos humanos e ao meio ambiente, além do comportamento do presidente Jair Bolsonaro, classificado pelos democratas como lamentável. Isso sem contar que, na avaliação do grupo, o presidente brasileiro representaria uma ameaça real à democracia.

A decisão pegou autoridades brasileiras de surpresa, especialmente aqueles que são entusiastas de um acordo comercial amplo e profundo com os Estados Unidos. Também gera preocupação no setor privado que deseja um Tratado de Livre Comércio com os Washington.

Com o objetivo de conter os danos, na terça-feira, 9, o embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Nestor Foster, iniciou uma ofensiva junto ao Congresso norte-americano para tentar reverter a situação. Tanta preocupação se justifica.

O Congresso norte-americano precisa não apenas ratificar os acordos firmados, mas, no caso do comércio, as negociações só podem ser iniciadas com autorização prévia. O risco, neste caso, é que os Estados Unidos não sejam autorizados a abrir negociações comerciais com o Brasil.

Foster terá pelo menos dois pesos-pesados trabalhando com ele dentro do Capitólio: os senadores republicanos Marco Rubio e Rick Scott. Os dois defendem que a Casa Branca não perca o Brasil como aliado estratégico.  Foster também enviou uma carta ao presidente do Comitê, em que rechaça completamente as acusações contra o presidente brasileiro. Ele deverá, além disso, ampliar as conversas com o setor privado norte-americano em busca de apoio e pressão, claro.

Brasil e Estados Unidos têm conversado sobre um Tratado de Livre Comércio, desde maio de 2019. Paulo Guedes colocou o então Secretário de Comércio Exterior e Relações Internacionais, do Ministério da Economia, Marcos Troyjo – futuro presidente do Banco dos BRICS -, para tratar com os norte-americanos. Mais recentemente, coube ao Secretário de Comércio Exterior, Lucas Ferraz, conduzir a 18ª plenária do Diálogo Comercial Brasil-EUA em 14 de maio, junto com o Subsecretário adjunto de Comércio Internacional e subsecretário interino de Comércio Internacional do Departamento de Comércio dos Estados Unidos, Joseph Semsar.

Os dois países trabalham para ajustar alguns temas, principalmente regulação, para poder então, inciar o diálogo para um acordo de comércio abrangente. Seria a antessala de um acordo. A carta do Comitê de Assuntos Tributários representa um problema, mas no interior do governo, muitos veem um exagero considerar que a medida sepulta qualquer possibilidade de se avançar no tema.

No entanto, Nestor Foster terá de gastar muita sola de sapato indo de gabinete em gabinete para falar bem de Bolsonaro. Isso sem contar que um Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos também depende das eleições deste ano. Com a reeleição de Donald Trump, a possibilidade é muito maior. Se Joe Biden conseguir reverter o atual cenário, as coisas podem se complicar bastante.

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