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De olho nas eleições de 2022, agenda liberal perde força

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Em outubro acontecem as eleições municipais para vereador e prefeito/Arquivo

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Texto de Noemí Araújo

Ninguém é insubstituível, diria o ditado; e, podemos acrescentar, nem indemissível, seja no setor privado ou público, seja você trabalhador ou um ministro de Estado. Foi possível constatar essa máxima com o ex-super ministro da justiça Sérgio Moro; e, também é factível que aconteça com o ministro da Economia Paulo Guedes. Semanalmente, mais especificamente às sextas-feiras, surge a pergunta se ele sairá. Os apoiadores dizem que é fake news, mas também disseram sobre os outros então ministros, inclusive o da Saúde em meio à pandemia, e aconteceu.

Fazendo uso da analogia matrimonial sempre utilizada pelo próprio presidente da República, depois de duas semanas turbulentas, de pronunciamentos de líderes e especulações sobre o futuro do relacionamento, aparentemente, o casamento se mantém. A questão é que os votos feitos durante a cerimônia conseguiram se manter até a lua de mel. Mas, passado o tempo de encantamento e a necessidade de enfrentamento da realidade submersa em uma crise sanitária e econômica, a estratégia para a renovação dos votos, no caso a reeleição em 2022, começa a ser desenhada e, nitidamente, diferente do prometido.

O primeiro passo para contrapor as medidas econômicas do governo petista, ao longo de 14 anos, foi tomado ainda durante o governo Temer, em 2016, quando além da reforma trabalhista e a apresentação da reforma da previdência (base para o texto aprovado em 2019) foi aprovada a Emenda Constitucional (EC) nº 95, uma alteração à Constituição que implementou o chamado Teto de Gastos. A proposta estipula um limite dos gastos públicos por 20 anos (até 2036), acompanhando os índices de inflação. Os órgãos públicos que não respeitarem o teto não podem: reajustar salários de servidores; receber incentivos ou subsídios; realizar contratos ou fazer novos concursos públicos.

Com a chegada de Paulo Guedes para a campanha presidencial em 2018, a personificação desta agenda econômica liberal (mínima intervenção do Estado na economia) clamada por parte da sociedade brasileira, ganhou corpo e mente, se tornando uma das principais bandeiras defendidas: ajustes fiscal e econômico, redução dos gastos públicos e a sinalização de compromisso com o mercado, atendendo às demandas não priorizadas pelos governos Lula e Dilma, tidos como esbanjadores das contas públicas, assistencialistas e intervencionistas.

No entanto, com quase dois anos de mandato, o desgaste tem sido evidenciado, pois as medidas anunciadas não foram de fato apresentadas e implementadas, nem ao menos chegaram com força no Parlamento, à exceção da Reforma da Previdência; tendo o cenário desfavorável ainda mais agravado pela pandemia e por posições contraditórias do presidente e de seu ministro.

Desde dezembro de 2019, Bolsonaro tem sinalizado e buscado aproximação com o Nordeste, reduto eleitoral petista, que sabemos ser essencial para 2022. Conceder o 13º pagamento do bolsa família; apresentar o auxílio emergencial buscando prorroga-lo até o final deste ano e, em 2021, torna-lo permanente – substituindo o nome Bolsa Família por Renda Brasil – atenderá cerca de 20 milhões de famílias; participar de diversas inaugurações de obras públicas nos estados nordestinos e, inclusive, andar a cavalo com chapéu de vaqueiro, são sinais evidentes que a campanha já começou.

O mercado e Guedes terão que se adequar ao novo projeto de governo, que elevarão os gastos públicos com investimento e políticas redistributivas visando as eleições. Afinal, são essas ações palpáveis que trazem popularidade. E isso é comprovado mediante as últimas pesquisas de intenção de voto, que revelam o melhor índice de aprovação do presidente Bolsonaro durante seu mandato.

Passadas as discussões de relacionamento, Paulo Guedes recuou, mesmo com debandada de parte de sua equipe, anunciou que a missão agora é ajudar o governo a remanejar recursos a fim de criar as condições para que sejam feitos investimentos públicos sem “furar” o teto de gastos, para que o Presidente não volte a se aproximar de uma “zona de impeachment”. Mas o que importa não é como; mas, sim, o resultado. Ao tentar agradar os dois lados, Bolsonaro tenta mudar a orientação política econômica do governo, repetindo ações do governo passado; sem admitir que, cada vez mais, seu discurso liberal se aproxima do paternal. Ao se concretizar a agenda que se anuncia, de liberal só restará a permissão ao porte de armas.

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