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Brasil e Argentina caminham para uma relação pragmática e voltada ao comércio

Chanceler Ernesto Araújo

Chanceler Ernesto Araújo durante conferência virtual do Conselho Mercado Comum (Mercosul)/Arquivo/Gustavo Magalhães/MRE

Na quarta-feira (19), o presidente Jair Bolsonaro recebeu as cartas credenciais do embaixador da Argentina no Brasil, o ex-vice-presidente e ex-candidato presidencial, Daniel Scioli. Os dois se conheceram em fevereiro quando Bolsonaro recebeu o chanceler argentino Felipe Solá, a quem assegurou o apoio brasileiro à renegociação da dívida argentina com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

No encontro, ambos evitaram os temas polêmicos. Houve bom senso e uma aposta em tratar, primeiro, daquilo que nos aproxima. A Argentina quer mais comércio com o Brasil e o Brasi quer mais comércio com a Argentina. As diferenças quanto às regras do Mercosul também ficaram para as respectivas chancelarias e ministérios de Economia.

Bolsonaro foi claro ao afirmar que deseja “de coração” que a Argentina se recupere. E não falou da boca para fora. A recuperação econômica do país vizinho é de interesse direto do Brasil. Uma Argentina mergulhada no caos é tudo que o Brasil não quer e não precisa, principalmente neste momento.

Em 2021, Argentina e Brasil irão presidir o Mercosul. Será justamente o ano em que serão celebrados os 30 anos desde que José Sarney e Raúl Alfonsín, decidiram pôr fim às rivalidades e aproximar os dois principais países da América do Sul. Desde então, as relações têm caminhado com muitos solavancos, principalmente à época em que o casal Kirchner presidia o país vizinho.

Os problemas econômicos e comerciais eram quase diários. A Argentina encrencava com todos os parceiros do Mercosul. Não raro, caminhões eram proibidos de entrar em território argentino sem que houvesse uma razão plausível. Muitas cargas foram simplesmente para o lixo graças as oscilações de humor, especialmente da Sra. Kirchner.

Com Mauricio Macri, a situação mudou, mas muitos problemas persistiram. Ele e o então presidente Michel Temer se concentraram em eliminar barreiras ao comércio e esse processo permitiu que mais de 80 instrumentos fossem extintos, conferindo maior dinamismo às relações.

No entanto, nos últimos 15 anos, a Argentina, segundo Scioli, acumula um déficit comercial com o Brasil da ordem de US$ 52 bilhões. Ele defende que haja um maior equilíbrio e assegura que não está nos planos de Alberto Fernández, deixar de comprar do Brasil. O que a Argentina quer é que o Brasil compre mais.

Na sexta-feira (21), Daniel Scioli almoçou com o chanceler Ernesto Araújo. Os dois levaram para a mesa, seus principais assessores, mostrando que ambos têm a mesma pretensão: melhorar o estado das relações bilaterais, com foco no comércio e não na política.

Por isso, divergências quanto à crise na Venezuela ou o asilo concedido por Fernández ao ex-presidente Evo Morales, da Bolívia, por exemplo, ficaram de fora do cardápio. Seria muito interessante se os dois países conseguissem, realmente, deixar as questões ideológicas de lado e focar apenas no aprofundamento da relação bilateral e na responsabilidade compartilhada com o presente e o futuro do Mercosul.

Este ano é pouco provável que as negociações extrarregionais avancem de forma objetiva com a ratificação de acordos. Mas, 2021, pode ser decisivo. O Mersocul completará três décadas, tempo suficiente para corrigir o rumo e colocar o bloco na direção da promoção comercial para o desenvolvimento dos seus integrantes e habitantes.

O Mercosul é uma vocação, assim como as relações bilaterais. Por mais que haja rivalidade ou divergência, Brasil e Argentina estão condenados a conviver com proximidade. Os atuais governos poderiam espelhar-se no êxito internacional em que se transformou a Agência Brasileiro Argentina de Contabilidade e Controle (ABACC), modelo para o mundo de cooperação e confiança no campo da energia nuclear.

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