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Guedes cada vez menos Guedes

Paulo Guedes e Jair Bolsonaro

Os dois lados de um mesmo governo na política econômica/Agência Brasil

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Texto de Vivaldo de Sousa

Primeiro foi Joaquim Levy, “demitido” da presidência do BNDES em junho de 2019 pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), que não concordava com a gestão do ex-auxiliar de Dilma Rousseff. Assim como o ministro da Economia, Paulo Guedes, Levy concluiu seu doutorado em economia na Universidade de Chicago (EUA), sempre classificada como um templo dos economistas liberais.

Depois foi a vez do economista Marcos Cintra, demitido da Secretaria da Receita Federal em setembro de 2019, após defender publicamente a recriação da antiga CPMF, tributo sempre criticado pelo deputado federal Jair Bolsonaro antes de se tornar presidente da República. Doutor em economia por Harvard, Cintra também é classificado como uma economista de linha liberal.

Polêmica, a recriação do imposto, ainda que com outro nome e outro formato, é defendida hoje pelo governo como uma solução para permitir a redução da tributação sobre a folha de pagamento sem queda de arrecadação _talvez até com um ganho adicional na receita federal. Agora é a vez de Roberto Castelo Branco ser “demitido” da presidência da Petrobras em função do reajuste dos combustíveis.

Amigo pessoal de Guedes, que o indicou para o cargo, Castelo Branco fez seu pós-doutorado na Universidade de Chicago entre 1977 e 1978, quando Guedes, que fez o mestrado e doutorado entre 1977 e 1979, frequentava os corredores da mesma universidade. Sem entrar no mérito da gestão de Castelo Branco, ele sai do cargo porque, como disse Bolsonaro nesta quinta-feira (18), “alguma coisa vai acontecer na Petrobras nos próximos dias”.

Também já deixaram a equipe de Guedes o economista Mansueto Almeida, ex-secretário do Tesouro Nacional; Rubens Novaes, ex-presidente do Banco do Brasil; e Caio Megale, ex-secretário da Fazenda do Ministério da Economia _os três em junho de 2020. Também de perfis liberais, Salim Mattar deixou a secretaria especial de Desestatização e agosto de 2020, decisão que foi seguida no mesmo mês por Paulo Uebel, ex-secretário de Desburocratização, Gestão e Governança Digital.

Substituto de Novaes no Banco do Brasil, André Brandão atuou por mais de 20 anos no mercado financeiro, que “fica irritadinho” com “qualquer negocinho. A frente de um plano para fechar pelo menos 112 agências físicas do BB e enxugar o quadro de funcionários em 5 mil funcionários este ano, Brandão já viu Bolsonaro criticar publicamente o programa de reestruturação do banco. Resta saber se alguma coisa vai acontecer também no Banco do Brasil em breve.

Visto pelos setores produtivo e financeiro como o fiador de uma política liberal no governo Bolsonaro, Paulo Guedes, que deixou de lado as convicções liberais para implementar as necessárias medidas de combate ao impacto da Covid-19, como o auxílio emergencial e criação de linhas de crédito, vai começar em março seu 27º mês à frente do Ministério da Economia. Está cada vez menos Guedes, cujas teses sobre questões fiscais sempre foram a favor de reduzir o Estado e os gastos públicos.

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