Texto de Gilmar Corrêa
A minirreforma ministerial do governo Bolsonaro vai impactar na política partidária do Distrito Federal. A 17 meses das eleições para deputados federais, deputados distritais, para a vaga de um senador da República e para o governo, o tabuleiro político apresenta novas composições.
A principal delas é o fortalecimento político da deputada Flávia Arruda (PL-DF). Nos bastidores, ela tem feito movimentações para concorrer ao Senado, mas com a sua nomeação para a Secretaria de Governo, os planos do seu grupo podem ser alterados na direção do Palácio do Buriti.
Flávia Arruda foi a deputada federal mais votada do Distrito Federal graças ao capital político do seu marido, o ex-governador José Roberto Arruda. Ela recebeu 121.340 votos, número bem acima da segunda colocada, a deputada Erika Kokay ({PT), que obteve 89.986 sufrágios.
Passados dois anos desde que assumiu uma das oito cadeiras do DF na Câmara dos Deputados, Flávia procura encontrar seu próprio caminho.Mas ainda não consegue se afastar especialmente do carimbo do marido, condenado por corrupção. Flávia foi coordenadora da bancada e comandou recentemente a poderosa Comissão Mista de Orçamento do Congresso.
A presidência da CMO chegou depois de um embate de meses, sendo seu principal padrinho o atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Ela tem um papel importante na bancada feminina, que foi fator de desequilíbrio nas eleições para a Mesa Diretora com a eleição de deputado alagoano.
Flávia Arruda tem também atrás de si talvez um dos mais pragmáticos políticos da República em atuação, o ex-deputado Valdemar da Costa Neto. Ele é especialista nas articulações e o PL nunca deixou de ser governo, seja na época do PT, de Lula da Silva e Dilma Rousseff, e do MDB, com Michel Temer. Enfim, é um articulador do Centrão, a base de sustentação do presidente Bolsonaro no Congresso Nacional.
Valdemar da Costa Neto tem um comportamento diferente do comandante do PTB, o ex-deputado Roberto Jefferson. Assim como Valdemar, Jefferson passou pelo inferno da prisão e condenação por corrupção. Valdemar, no entanto, não se exibe nas redes sociais. Agora, Flávia Arruda é sua legitima representante na Secretaria de Governo, a pasta responsável pela articulação política entre o Palácio do Planalto e o Congresso. Sua principal tarefa é viabilizar as demandas dos parlamentares (o toma-lá-dá-cá) e a viabilização dos pagamentos das emendas individuais e de bancada.
Flávia Arruda aparentemente não é uma neófita em política. Tem aproveitado todas as oportunidades e se mostra uma companheira quase inseparável, na Câmara, da deputada Soraya Santos (PL-RJ), que é oficialmente a presidente nacional do PL Mulher.
Com todos esses requisitos, a deputada do DF estaria habilitada para concorrer ao governo do Distrito Federal. É uma aliada de primeira hora do governador Ibaneis Rocha (MDB), mas quando as composições políticas estiveram bem mais próximas das eleições, tudo pode acontecer. Ibaneis deve concorrer à reeleição, mas os eleitores do Distrito Federal nunca reelegem um governador desde Cristovam Buarque (1985-1990).
Esse comportamento do eleitorado pode estimular ainda mais Flávia Arruda a ter um voo muito parecido com o marido. Ele foi deputado federal, senador da República (renunciou após escândalo de adulteração do painel de votação em 2001) e governador (cassado após o escândalo do mensalão do DEM em 2010).