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Crise social e guinada à esquerda na agenda da CIA

CIA Burns, Bolsonaro, Ramagem e Heleno

Ramagem, Bolsonaro, Burns, embaixador Chapman e Augusto Heleno/Arquivo/Diário Las Américas

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Os EUA estão preocupados com uma crise social generalizada na região da América Latina

Texto de Marcelo Rech

No dia 1º de julho, o diretor da CIA, William Joseph Burns, reuniu-se, em Brasília, com o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), e alguns dos seus principais ministros, além, claro, do seu contraparte, o diretor geral da Abin, Alexandre Ramagem. De forma muito genérica, atribuiu-se a ele, a preocupação dos EUA com a implantação da tecnologia 5G pelo Brasil. De fato, Bill Burns tratou do assunto, mas o que o trouxe ao Brasil foi o mesmo tema que o levou, horas depois, à Colômbia.

Os EUA estão preocupados com uma crise social generalizada na região, algo que culminaria com uma nova guinada à esquerda na maioria dos países da América do Sul. Para o chefe da CIA, o que aconteceu no sábado, 3, e que ele antecipou dias antes ao presidente da República, deve se aprofundar no Brasil e em outros países. E ele não se refere apenas a manifestações e protestos contra os governos, mas à repetição de atos violentos que buscam desestabilizar os países hoje sob comando da direita.

No ano passado, o Chile, país-modelo para os vizinhos, foi atropelado por uma onda de violência que obrigou suas autoridades a convocarem uma Assembleia Constituinte para redigir a primeira Constituição pós-Pinochet. Instalada, a Assembleia Constituinte será presidida por uma índia mapuche. De alguma forma, o presidente Sebastián Piñera conseguiu submergir das pressões por sua renúncia e deverá concluir o mandato, mas as eleições de novembro naquele país devem ser as mais acirradas desde a redemocratização chilena nos anos 90.

Na visão dos EUA, o que ocorreu no Chile se repete na Colômbia e será replicado no Brasil. Esses dois países têm eleições gerais em 2022, o Chile, como assinalado, tem presidenciais em novembro junto com Nicarágua e Honduras.



Burns veio entregar um aviso sério ao governo Bolsonaro. Os atos desestabilizadores irão crescer no Brasil. Por trás desse processo, trolls russos e chineses. Washington teme perder espaço em sua zona de influência e, na estratégia russa especialmente, quanto mais problemas na América Latina, menos condições os EUA terão para interferir no resto do mundo.

Em 2021, podemos dizer que o placar se mantém equilibrado. Tivemos eleições no Equador onde saiu vitorioso um candidato de direita, e no Peru, onde a esquerda teria vencido o segundo turno, apesar do candidato Pedro Castillo ainda não ter tido sua eleição homologada. Castillo teria recebido forte apoio econômico de países antagonistas dos EUA e que teriam chegado àquele país, via Venezuela.

Perder o Brasil e a Colômbia para uma esquerda radical e violenta é tudo que Washington não quer. Com um histórico de ingerência na política regional, hoje os EUA se veem ameaçados por potências extrarregionais que buscam conter a sua hegemonia aplicando o mesmo veneno. China e Rússia buscam frear os ímpetos norte-americanos no resto do mundo semeando a discórdia e os conflitos no quintal da CIA.

Isso sem falar no apoio que já entregam à Argentina, Bolívia, Cuba, Venezuela e Nicarágua. Um dos cenários mais temerários para os EUA diz respeito à possível perda da Colômbia, aliado preferencial e destino de alguns bilhões de dólares em armas. Uma Colômbia parceira da Venezuela bolivariana é impensável para os EUA. Seria a conjugação perfeita do crime organizado, guerrilhas, corrupção e tudo o mais que se possa imaginar. O México de hoje, seria fichinha perto do que poderiam ser Colômbia e Venezuela sob o mesmo mando.



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