Seria um aplicativo para atrair novos usuários à plataforma para menores de 13 anos
O Facebook anunciou ter suspendido a criação da versão Instagram Kids para menores de 13 anos. O anúncio foi feito nesta segunda-feira (27) pelo chefe da plataforma Adam Mosseri. No blog oficial do aplicativo, Mosseri disse que a opção da plataforma para as crianças “é a coisa certa a se fazer”, mas é preciso ainda ter um diálogo com pais, especialistas e reguladores.
Segundo ele, de nenhuma maneira o Instagram Kids seria um aplicativo para atrair novos usuários à plataforma, uma vez que as crianças já estão presentes na Internet. A agência Sputnik conversou com Christian Perrone, coordenador da área de direito do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio, sobre a pausa na iniciativa do Facebook para entender melhor as dúvidas existentes sobre o assunto.
o especialista aponta nossa atenção ao fato do quanto essa possibilidade pode impactar a vida das crianças. Nenhuma criança menor de 13 anos consegue entender todas as consequências que pode ter quando coloca sua foto nas redes sociais, afirma ele.
“Vale admitir que há crianças que já são extremamente espertas, “já são nativos digitais”, e conseguem se adaptar muito mais rápido do que inclusive uma série de adultos às regras da Internet e compreender tais fenômenos como desinformação, por exemplo. Ao mesmo tempo, existe uma série de potenciais danos que nem todas as crianças entendem”.
O primeiro risco ao qual aponta Christian Perrone é a repercussão de longo prazo. Uma parte inalienável de nossa infância, diz, é fazer bobagem. Na era pré-Internet, não havia consequências para o resto de nossa vida e isso não nos incomodava muito. Mas uma bobagem que seja colocada em uma rede social tende a ser permanente: agora não se apagará tão facilmente.
Além disso, existem também os riscos de exposição: riscos de adultos se meterem no meio, ou quando outras crianças baixam as fotos. Isso tem a ver com uma questão de dados pessoais. Não se trata apenas do fato que o Facebook ou Instagram Kids utiliza ou não os dados pessoais, mas as próprias crianças podem acidentalmente expor dados que podem ser observados por outras crianças e pessoas, publicando, por exemplo, fotos em frente do colégio, da escola, de casa, com o carro dos pais etc.
O último risco é a questão de bullying, ou seja, uma prática sistemática, no caso das redes sociais, de violência psicológica através de críticas repetitivas contra as crianças. Em vista de todos esses riscos, a grande questão é se realmente nós podemos proteger as crianças nessa plataforma.
Mesmo que existam várias opiniões sobre a regulação do funcionamento das plataformas, o especialista defende a chamada “autorregulação regulada”, expressão que ele mesmo diz ser um pouco estranha, mas que reflete sua essência.
Conforme Perrone, precisa de uma situação em que de um lado tem as plataformas e do outro o Estado, conseguindo resolver conjuntamente o problema.
“A primeira linha de frente são as plataformas, elas têm que atuar […] em determinadas áreas, mas não necessariamente elas são suficientes, por isso precisa do Estado auxiliar nesse processo de contrabalançar os interesses da plataforma com os interesses públicos, e auxiliar para guiar de alguma forma as plataformas de uma maneira consistente e coerente entre elas.”