Tornou-se uma espécie de superdiocese, única do tipo, que operava independente de fronteiras e respondia diretamente ao papa
Um decreto assinado pelo papa Francisco que entrou em vigor nesta quinta-feira (04) reduz o poder e a independência da organização católica conservadora Opus Dei. A organização evangelizadora, cujo nome significa obra de Deus, é especialmente presente na Europa e na América Latina, inclusive no Brasil, e havia conquistado status na Igreja Católica sob o papa João Paulo 2º.
No seu pontificado, a Opus Dei tornou-se uma espécie de superdiocese, única do tipo, que operava independente de fronteiras e respondia diretamente ao papa – e acusada de fazer jogos secretos de poder nos bastidores, o que sempre negou.
As reformas, anunciadas pelo papa Francisco no documento Motu Proprio, publicado em 22 de julho, são parte de mudanças mais amplas implementadas pelo atual pontífice para tentar modernizar e ampliar a transparência na Igreja Católica.
Quais são as mudanças
O decreto do papa estabelece que o líder da Opus Dei – o prelado – não será mais nomeado bispo, e que a organização se reportará ao Dicastério para o Clero, e não mais ao papa.
Além disso, a Opus Dei terá que apresentar a esse órgão um relatório anual sobre as suas atividades – antes, um relatório era apresentado a cada cinco anos.
“É necessária uma forma de governo baseada mais no carisma do que na autoridade hierárquica“, escreveu o papa Francisco em seu decreto.
Quarenta anos após o reconhecimento da Opus Dei por João Paulo 2º, em 1982, “Francisco procura acabar com uma estrutura excessivamente hierárquica”, afirmou Jesus Bastante, da publicação especializada Religion Digital, à agência de notícias AFP.
Fundada em 1928
Em uma carta aberta, o atual prelado da Opus Dei, Fernando Ocáriz, disse que aceitava as mudanças e exortou os membros a seguir o apelo do papa “para difundir pelo mundo o chamado à santidade”.
Ao contrário de seus dois antecessores, Ocáriz já não havia sido ordenado bispo quando assumiu o posto, em 2017, durante o pontificado de Francisco.
O porta-voz do Opus Dei, Manuel Sanchez, afirmou: “Alguns interpretaram as disposições da Santa Sé como rebaixamento ou perda de poder. Não estamos interessados nesse tipo de raciocínio, porque para um católico não vale a pena usar categorias de poder ou categorias mundanas”.
A Opus Dei foi fundada em 1928 pelo sacerdote espanhol Josemaria Escrivá de Balaguer, que morreu em Roma em 1975 e foi canonizado em 2002 por João Paulo 2º, e cujo papel na ditadura de Francisco Franco na Espanha segue controverso.
A Opus Dei diz ter atualmente cerca de 90 mil membros em todo o mundo, 98% dos quais são membros leigos, homens e mulheres, e os outros 2% são sacerdotes. Os membros são encorajados a professar sua fé em todas as partes de suas vidas, particularmente por meio do trabalho, informou a DW.