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Direito a mobilidade, um direito à vida

Faixa de ônibus na rua da Consolação, região central de São Paulo/Arquivo/Agência Brasil

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Não se pode falar em isonomia quando alguns acreditam que a sua vida é mais importante do que ao do pedestre na rua

Por Charles Machado – SC

Inevitavelmente o evoluir da tecnologia é sempre uma soma de soluções que criam com o tempo novos problemas, e seu uso é o resultado dessa equação entre novas soluções e novos problemas, é do resultado dessa equação que uma tecnologia se apresenta invariavelmente como vencedora.

Esse é o caso dos automóveis, os primeiros nas cidades surgem como solução, para o nosso deslocar, os milhares em nossas cidades desenham uma realidade cotidiana, já as centenas de milhares aparecem com uma série de problemas que precisam de solução.



faixa de pedestre DF Misto Brasília
O respeito ao pedestre nas cidades começa pela faixa de segurança no trânsito/Arquivo/Agência Brasília

Sendo o direito à mobilidade um valor Constitucional decorrente do princípio maior norteador da nossa magna Carta, o Direito a Vida, um permanente debate se mantém na construção de cidades melhores pra se viver, e logo isso passa pelas prioridades estabelecidas por décadas para a circulação desses automóveis.!

Não se pode falar em isonomia quando alguns acreditam que a sua vida é mais importante do que ao do pedestre na rua.



Não se pode falar em isonomia, quando olhares desatentos resolvem curtir uma foto do Instagram enquanto dirigem seus veículos pela cidade.

As ruas devem ser das pessoas e dos automóveis em segundo plano, logo o papel regulador dos municípios passa, pelo alargamento de calçadas, obrigatoriedade de bicicletários em maior número nos prédios, comerciais e residenciais, o que de imediato ampliaria o uso desses equipamentos, e a empregabilidade na construção civil na edificação e instalação desses equipamentos. Pense apenas na padronização e alargamento das calçadas e ampliação das ciclovias?



Pense apenas em um trabalho em que as ruas das suas cidades são modificadas em uma velocidade de 10% delas ao ano? Qual o impacto na empregabilidade e na circulação das pessoas nesse redesenhar dos modais de transporte?

A renúncia e ou redução do carro privado depende de uma série de fatores, afinal se parte dos nossos filhos vão para escola de bikes ou patinetes, certamente nossos veículos acabam andando menos e congestionando menos as vias.

A tecnologia e suas inúmeras possibilidades

Usando uma terminologia bem atual é preciso reduzir o empoderamento dos veículos, veja por exemplo o tamanho da renúncia fiscal que União e Estados concedem as montadoras de automóveis e procure saber o que ofertam aos fabricantes de outros modais logísticos?

A tecnologia já oferta inúmeras possibilidades para a condução inteligente de um trânsito sustentável, com foco na micromobilidade com segurança e com boas práticas de cidadania.

Afinal, qual a razão dos nossos celulares não travarem enquanto dirigimos veículos? Qual a razão para que os mesmos não tenham o módulo “conduzindo veículo”? Por qual razão nossos celulares que nos monitoram em todos os movimentos não estão conectados ao sistema de trânsito avisando que estamos conduzindo um veículo acima da velocidade permitida? Todas essas soluções são simples, já existem e a crise fiscal deve empurrar os entes públicos para esse caminho.



Nossos celulares e seus dados de locomoção vão interagir de forma cada vez mais intensa com o avançar das tecnologias de 5G e Internet das Coisas, estamos apenas no início, e por mais que seja antipático serão medidas que salvarão vidas e melhorarão o trânsito nas ruas e rodovias.

Algumas empresas já são capazes inclusive de detectar os péssimos motoristas, e de travar o veículo em caso de má condução através dos seus softwares.

A melhor qualidade na condução, seja de automóveis, motos e outros veículos vem inclusive avançando para equipamentos de micromobilidade como bikes, patinetes e scooters.



Reinventar o futuro das cidades por meio do desenvolvimento de tecnologias inovadoras e sustentáveis, respondendo aos crescentes desafios no setor de mobilidade, depende da integração e da leitura de que o viés do trânsito em nossas cidades caminha conjuntamente com projetos comercialmente sustentáveis do ponto de vista econômico e social, e isso vai muito além de povoar nossas cidades e calçadas com patinetes e bikes jogadas de forma aleatória, prejudicando o pedestre.

No geral, o cidadão comum, diante da possibilidade de pegar uma bicicleta e pedalar até o seu destino, a menos que não tenha devido à idade ou limitações, a condição física para fazê-lo, não o assusta.

O que o assusta são os riscos desse trajeto, por andar em um veículo sem carroceria para protegê-lo, e fazê-lo cercado por carros, compartilhando a estrada com veículos de uma tonelada ou mais que também, nas cidades, dirigem de forma geralmente agressiva e não levam bem o fato de reduzir sua velocidade para adaptá-lo ao de um veículo de mobilidade pessoal, como uma bicicleta ou uma scooter.



A mobilidade urbana permite que novos meios sustentáveis sejam usados nos deslocamentos/Arquivo/Agência Brasília

O problema das cidades são os carros

O problema em nossas cidades não são as bicicletas: são os carros. E especificamente, os seus direitos e privilégios adquiridos. O que precisa ser resolvido para melhorar a mobilidade nas cidades não é o problema colocado pelas bicicletas, mas o problema colocado pelos carros. E para consertá-lo, você tem que começar transformando esses carros em uma solução muito menos atraente.

A forma de fazer isso pode ser restrições ao seu movimento em determinadas áreas, como se propõe em um número crescente de cidades; a introdução de pedágios, como outros; mas, acima de tudo, deve vir da eliminação dos direitos adquiridos, essencialmente, do estacionamento.



O que leva as pessoas a pensar que as ruas são o lugar certo para abandonar seus veículos por horas?

O estacionamento de superfície envolve a apropriação para uso privado de um espaço público. Muitos municípios aproveitam essa situação para se financiar, tudo bem, mas isso não muda o fato fundamental: que estamos utilizando um espaço público que poderia ser colocado a serviço de todos os cidadãos, para que um número de pessoas, quer paguem ou não, usem-na como garagem privada.



O estacionamento de superfície nos priva de um espaço estratégico para o desenvolvimento de opções alternativas, e além disso, o hábito de procurar vaga de estacionamento na rua contribui muito negativamente para o congestionamento. Nas cidades do futuro, o estacionamento de superfície está condenado a desaparecer completamente.

A medida fundamental para tornar as cidades atraentes para opções de mobilidade pessoal, como bicicletas ou patinetes, é a criação de faixas habilitadas para elas, onde os cidadãos podem se locomover sem arriscar suas vidas. E a única maneira razoável de permitir esses espaços é tirá-los do estacionamento da superfície. Não mais considerando a rua como um espaço para abandonar um carro por horas. A equação é tão simples.


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