Fique atento a próxima mudança no transporte público, que anda a passos largos por empresas como Cuise e Waymo
Por Chalres Machado – SC
No próximo ano, a Uber completa dez anos no Brasil, seu serviço reinventou o transporte público, quebrou paradigmas lançando até mesmo uma categoria conhecida como uberizados. Ou seja, todo e qualquer motorista de aplicativo se inclui nesse termo. Passados quase 10 anos dessa avassaladora concorrência para os taxis, qual foram as mudanças do taxi em nossas cidades?
Antes que você me responda, fique atento a próxima mudança, que anda a passos largos por empresas como Cuise e Waymo, as duas mais importantes empresas de veículos autônomos para o transporte de viajantes, conhecidas como robotaxis.
As frotas se expandem de forma veloz, enquanto os habitantes dessas cidades começam a se acostumarem com a presença e com uso desses veículos em que não há motorista de segurança ou ninguém sentado ao volante.
Ocorre que nos Estados Unidos, a regulamentação da implantação de veículos autônomos nas cidades, diferentemente da regulamentação de veículos automotores, depende das decisões de estados e municípios, o que, segundo alguns, deve atrasar um pouco o inevitável. Já na Europa, a mesma decisão depende da aprovação de todos os países, o que deve tornar essa regulamentação mais difícil.
Cada nova invenção tecnológica requer avanços em muitas outras áreas conexas ao novo produto ou serviço, sendo que além dos avanços tecnológicos é preciso também a compreensão cultural daquele do novo, e principalmente o apelo na compreensão da necessidade dessa inovação.
Veja o exemplo dos aplicativos de compartilhamento de veículos, como Uber ou 99, quanto precisou acontecer para que eles se tornassem um sucesso.
Questões que podem ajudar no compartilhamento
Primeiro os fatores externos a criação, que não são méritos do inventor, não foi ele quem criou, mas ele percebeu que diante daquela condição o seu novo serviço ou produto poderia ser um sucesso.
Assim no caso desses dois aplicativos podemos colocar algumas questões que contribuíram para o sucesso do compartilhamento de viajem ou melhor do automóvel:
1. O elevado valor das corridas de taxi, com serviços desatualizados, ou seja, o mundo a fora o serviço de táxi era ruim, com motoristas em grande parte mal humorados, que faziam uma corrida como se estivessem nos fazendo um favor, quase sempre ancorados em sistemas de permissão ou concessão, e com isso pouco preocupados com a avaliação do seu serviço, logo um serviço que elevasse a qualidade do serviço prestado sairia vencedor e foi o que aconteceu.
2. A sobra de mão de obra, ou seja milhões de pessoas desempregadas ou com remuneração baixa, entenderam que poderiam utilizar suas horas e seus automóveis que estavam na garagem para uma nova atividade econômica. Em países de pleno emprego convencer alguém a sair do seu trabalho para trabalhar de motorista de aplicativo seria bem difícil. O Uber nesses países (com baixos índices de desemprego e com um estado social que funcione) é composta por estrangeiros e ou estudantes e aposentados para complemento de renda.
3. A transformação digital, a mesma que vem eliminando profissões é uma senhora parceira na criação de mão de obra, com profissionais cujo trabalho não oferta grandes remunerações, por isso em grandes centros os profissionais estão vindo da indústria que com a substituição do homem pela máquina no processo de automatização, perdem seu emprego. O mesmo ocorre com profissionais de escritório que vivem da burocracia do papel, na medida em que os ERPs (sistemas de gestão) das empresas vai ganhando espaço esses funcionários da burocracia vão perdendo seu mercado de trabalho.
4. Maior qualidade dos automóveis, quando uma pessoa coloca seu carro para trabalhar em um aplicativo ela considera que ao contrário de três décadas atrás os carros hoje podem rodar de 300 a 400 mil quilômetros sem ofertar risco ao motor, e logo qual o sentido de manter um ativo parado na garagem se ele pode render algum dinheiro para o seu proprietário?
5. A evolução do uso do GPS, com o compartilhamento de rotas e tráfego o que permite calcular qual o motorista mais próximo para a “corrida” e também projetar qual o valor daquela corrida considerando o trânsito naquele instante. Ao mesmo tempo que permite com segurança o monitoramento da viagem, três recursos que já estavam disponíveis para todos os táxis, mas que nunca tiveram interesse na evolução.
6. Evolução nos meios de pagamento, isso permite realizar toda transação com segurança para motoristas e passageiros, o que também já estava disponível para os táxis, que também sempre foram refratários, sendo que em algumas cidades para os motoristas de táxi aceitarem cartão de crédito para o pagamento das corridas, foi necessário uma lei municipal, como no caso de São Paulo, obrigando os taxistas que eram refratários.
7. Uso da Inteligência artificial no controle de despacho de serviço, definindo qual o melhor carro para a melhor corrida, e permitindo até o cálculo de previsão para novas corridas quando o motorista ainda nem terminou a anterior, o que representa melhor resultado financeiro, ou seja os motoristas dos aplicativos fazem uma quilometragem maior por dia e raramente ficam com seus carros parados, ao contrário dos motoristas de táxis em suas costumeiras rodas de conversa nos pontos de táxi, onde boa parte deles passa o dia parado, logo viajam bem menos.
Claro que o preço que em muitos casos chega a quase metade do valor de uma corrida de táxi, é a resultante do somatório desses itens, juntos e misturados e pessoas que por sua necessidade concordam em trabalhar ganhando menos por ser essa a única alternativa.
Cálculos para elevar o preço do serviço
Em um serviço de transporte tradicional, geralmente é calculado que cerca de 60% do custo corresponde ao motorista. Visto dessa forma, seria razoável que a transição para robôtaxis autônomo suponha uma clara redução no preço dos serviços de transporte.
No entanto, a evidência para o momento é que as empresas que as oferecem tendem a elevar o preço em relação à mesma jornada em um veículo com um motorista convencional, algo que, por outro lado, ainda afeta desde o enorme custo em pesquisa e desenvolvimento necessários para criar o serviço, até a necessidade, por exemplo, de manter as pessoas, seja como motoristas de segurança, ou em modo remoto monitorando viagens e ajudando ou resolvendo as dúvidas dos passageiros em caso de necessidade.
Por outro lado, o transporte em um veículo autônomo, por enquanto, não é sem suas desvantagens: por exemplo, enquanto com um motorista humano você poderia razoavelmente negociar um ponto para terminar a viagem, no modo “deixe-me lá no canto”, com um veículo autônomo, sua viagem termina onde o aplicativo considera que ele pode deixá-lo, sem a possibilidade de qualquer negociação.
Se adicionarmos detalhes como ajudar uma pessoa idosa a subir, carregar malas, etc., por enquanto, com todas as precauções envolvidas na avaliação de um serviço em um estágio tão inicial de seu desenvolvimento, o serviço completamente autônomo implica algumas limitações, mas é oferecido a um preço mais alto.
O que se pode esperar no futuro, quando aspectos técnicos forem considerados razoavelmente excedidos e as necessidades de monitoramento diminuírem?