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O desemprego e o desalento na nova capital nos primeiros anos

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Trabalhadores que construíram Brasília na década de 1960/Arquivo Público

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Em outubro de 1961, a Novacap que devia em torno de 5 bilhões de cruzeiros deixou de pagar a fornecedores, levando diversas empresas a requerem falência

Por Sérgio Botelho – DF

O ano de 1961 para a nova capital Brasília foi de enorme dificuldade. Ao lado ainda da resistência dos segmentos políticos e empresariais que seguiam questionando a mudança da sede do governo do litoral para o interior, dívidas e falta de um programa de atendimento a hordas de migrantes que, na esperança de vida melhor, não paravam de chegar a Brasília, deixaram a cidade bem perto do caos.

Em outubro de 1961, a Novacap que devia em torno de 5 bilhões de cruzeiros, segundo reportagem do Estado de São Paulo de 4 de outubro daquele ano, deixou de pagar a fornecedores, levando diversas empresas a requerem falência. A construção civil, que permitira a edificação da Cidade Livre (atual Núcleo Bandeirantes), e um pujante comércio em grosso e a varejo, estavam paralisados.

Aquele enorme canteiro de obras onde se construam prédios, rodovias, serviços de água e esgoto, e até um lago artificial, o Paranoá, a permitir um quadro local de pleno emprego, provocando o surgimento de um progressivo setor de serviços, havia sido enormemente reduzido em sua atividade.

Os empresários relutavam, ainda, em investir na nova cidade que, a despeito disso, continuava encantando o mundo por sua arrojada arquitetura e traçado urbano.

Dessa forma, sem emprego até para os que haviam construído a cidade, o problema aumentava com a chegada de novos pretensos moradores, naturalmente fugindo da difícil situação econômica e social que marcavam principalmente o Norte e o Nordeste do país.

Os trabalhadores que edificaram a cidade, diferente do que pretendiam inicialmente os idealizadores de Brasília, não queriam mais ir embora, nem a pau, como inúmeras vezes foi tentado, inclusive com mortos e feridos.

A Prefeitura de Brasília (forma de administração da cidade que vigorou até 1969, quando foi criado o Governo do Distrito Federal), em desespero, fazia veementes apelos aos governadores estaduais no sentido de divulgar, “por todos os meios possíveis”, a realidade de alto desemprego na nova capital.

Diante da aflituosa situação, era ajudada até por entidades sindicais de trabalhadores, as quais não deixavam de pressionar o governo em prol da reativação do setor da construção civil.

A Igreja, principalmente por meio dos bispos do Norte e do Nordeste, também se empenhava nessa campanha de esclarecimento.

A piorar o quadro e as poucas perspectivas de melhora, o Brasil viveu, em 1961, um ano extremamente confuso na política, em função do desastroso governo Jânio Quadros, mas também da instalação do parlamentarismo no país, condição exigida pelos setores conservadores da política nacional para que o vice-presidente João Goulart pudesse tomar posse após a renúncia de Jânio.

Naquele ano, um manifesto assinado por entidades as mais díspares em composição social e objetivos, encaminharam Memorial ao governo federal pedindo providências no sentido de que fossem restabelecidos os investimentos em Brasília.

Contudo, apesar das promessas, o ano de 1961 fechou assim, caótico e sem perspectivas, enquanto os ministros seguiam cumprindo um ritual de idas (frequentemente demoradas) ao Rio de Janeiro, e de voltas (sempre indesejadas e, por isso, comumente adiadas) à nova capital.

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