Misto Brasil

Apagão e a nossa dependência das big techs

Dependemos das grandes plataformas seja para trabalho, negócios ou lazer/Arquivo

O apagão digital serviu para expor o risco de a economia digital mundial, dependente de poucas empresas, as big techs

Por Charles Machado – SC

Bastou uma falha da atualização nos sistemas de uma empresa de cibersegurança para provocar uma pane de alcance mundial, gerando um apagão cibernético sem precedentes, criando um transtorno global ao funcionamento de empresas aéreas, hospitais, bancos, isso sem falar nas emissoras de TV que foram tiradas do ar.

Aqui no Brasil, bancos tiveram os seus aplicativos travados, além do atraso de muitos voos, diferente de outros lugares do mundo onde o transtorno foi bem maior.

A falha ocorreu durante atualização de sistemas da empresa de cibersegurança CrowdStrike, usados por algumas das maiores companhias do mundo. Durante a atualização, computadores entraram em tela de erro ao serem ligados.

Segundo a CrowdStrike, com sede nos EUA, a falha afetou clientes que hospedam seus serviços em computadores com Windows, o sistema operacional da Microsoft. Organizações com mais computadores podem levar dias até corrigir totalmente a pane.

O apagão serviu para expor o risco de a economia digital mundial, dependente de poucas empresas, as big techs.

Com sede em Austin, no Texas, a americana CrowdStrike foi fundada em 2012 por George Kurtz e Dmitri Alperovitch, exfuncionários da rival McAfee.

Segundo a empresa, a pane afetou clientes que hospedam seus serviços em computadores com Windows, o sistema operacional da Microsoft. Máquinas com Mac (da Apple) e Linux não foram afetadas.

Tecnicamente, a atualização de um dos softwares da CrowdStrike fez com que milhares de computadores, ao serem abertos, entrassem em tela de erro. Trata-se, no jargão do setor, da “tela azul da morte”, que aparece com mensagem que se traduz como “exceção de ameaça ao sistema não tratada”.

O desafio para ficar um dia sem as plataformas

Claro que nesse momento refletimos sobre a presença e o tamanho da nos1sa dependência desses gigantes da tecnologia.

Nessas horas desafiamos você a passar um só dia da sua vida sem usar os serviços de alguma grande plataforma digital. Você tem noção do que aconteceria se elas resolvessem parar por um só dia?

Vamos usar um só exemplo: Se o Google paralisa suas atividades por um só dia, como ficaria sua rotina?

Ao bloquear o Google, o primeiro resultado é que a internet inteira deve ficar mais lenta, afinal quase todos os sites que você visita utilizam ele como fonte para rodar os comerciais. Lembre-se, Facebook e Google possuem cerca de 22% de toda publicidade digital.

Veja também onde seus dados são armazenados, caso seja o Dropbox ao bloquear o Google, há o risco de você perder o acesso, pois o site pode pensar que você não é uma pessoa de verdade. Uber e Lyft devem parar de funcionar para você, pois, ambos dependem do Google Maps para navegação.

Descobri que, na prática, o Google Maps exerce um monopólio no segmento dos mapas online. Visto isso, concluímos que esses dois hoje são aqui na américa os provedores da infraestrutura da internet, de tão misturadas que são às arquiteturas do mundo digital, que até mesmo suas concorrentes acabavam dependendo desses novo barões da economia.

Logo o mundo precisa criar limites a esses novos barões, sejam eles dos EUA ou da China.

Apagão cibernético Aeroporto de Londres Misto Brasil
Passageiros esperam a hora de embarque no Aeroporto de Londres/Arquivo/BBC

O mercado contrado em poucos

A concentração do mercado pelas Big Techs, coloca essas empresas na posição de novos barões da economia mundial. Os diretores executivos de Amazon, Facebook, Google e Apple foram convocados por diversas vezes por uma comissão parlamentar de combate ao trust nos EUA, para responder quanto ao seu poder excessivo e de que maneira isso prejudica o consumidor.

Para que tenhamos a exata medida da sua importância, faça um teste e amplie o seu bloqueio para as demais big techs dos EUA, Amazon, Facebook, Google, Apple e Microsoft:

Vamos começar pela Amazon. Veja todos os sites hospedados pela Amazon Web Services, maior provedora de espaço na nuvem da internet,

Lembrando que eles possuem o controle de hospedagem da maioria dos sites no Brasil, logo não seria apenas boicotar a Amazon, mas seus serviços de hospedagem, pois muitos aplicativos e boa parte da internet usam os servidores da Amazon para hospedar seu conteúdo digital, e dessa maneira, uma parte muito grande do seu mundo digital vai se tornar inalcançável.

Quanto ao seu serviço de filmes, lembre-se de desligar o Amazon Prime Video e ficar com o Netflix. É bom lembrar que a Amazon detém mais de 50% de todas as vendas por internet nos EUA.  Tente imaginar o que representaria, para os milhões de fornecedores que fazem suas vendas no marketplace da Amazon.

Quanto ao Facebook, lembre-se que ele é dono das suas redes sociais (Facebook, Instagram e WhatsApp). Registre como será voltar a fazer ligações via sua conta telefônica de celular ou fixo e como saber das novidades dos seus grupos, de amigos, trabalho e ou família?

O “novo petróleo” e o capitalismo

Usei apenas esses poucos exemplos como ponto de partida. Nem precisei me aprofundar. Entenda que quando elas não te prestam seus serviços diretamente, acabam sendo a fornecedora de quem te presta serviço, ou seja, elas são onipresentes.

Visto que a invisibilidade da infraestrutura digital, com os seus arranjos e interconexões, faz com que as pessoas pouco conheçam e entendam a cadeia de agentes que faz a rede mundial de dispositivos conectados, e os serviços que rodam nela, funcionar.

E por isso mesmo, toda intercorrência que transforma a rotina do usuário, ainda mais quando acontece em escala global, vem acompanhada de muita confusão e especulações para todos os lados.

Os dados, leia-se a informação organizada e utilizada de forma inteligente, são o “novo petróleo” e isso representa uma enorme reviravolta do mercado global, tornando essas empresas os novos barões.

O intangível é o senhor da nova economia, pois, de meados do século 20 para cá, o capitalismo passa por uma estonteante mutação. As mercadorias corpóreas (coisas úteis) ficaram em segundo plano, enquanto a fabricação industrial de signos assumiu o centro da geração de valor.

Nesse momento o capital trabalha para o desejo, não mais para a necessidade, e as informações criam e modulam os desejos, fabricando e ajustando demandas.

Os números dão a dimensão da importância desse regramento, que bem pode começar pela tributação mundial dessas plataformas.

E evoluir para tratados internacionais que criem limite ao uso dos dados das pessoas e das empresas também, bem como ao uso da inteligência artificial.

Isso seria defender o atraso? Não de forma alguma isso seria criar limites e transparência para sabermos o que elas fazem com os nossos dados.

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