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Vamos tributar as fake news?

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A produção de mentiras provocam prejuízos e muita desinformação/Arquivo

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Como devem ser tratados os divulgadores de falso conteúdo? Devemos cobrar o tempo que nos é tomado pela desinformação?

Por Charles Machado – SC

Na economia digital, na disputa pela nossa atenção e pelo nosso dinheiro, todos acabam encontrando nos nossos celulares, dispositivos que parecem ter virado a extensão do corpo de muitos, o caminho obrigatório para reter nossa atenção, e fazer dessa retenção a conversão do nosso tempo em monetização.

E logo, na praia, no restaurante, no almoço de casa, em qualquer momento, no nosso redor, a cena sempre se repete, um dedicado e fixo olhar para tela do celular, esse sumidouro das nossas horas, das nossas relações, das nossas vidas, na lógica da “a desatenção, gerada pela disputa da atenção.”

Os celulares, suas telas e os algoritmos ditando nossas escolhas assumiram o protagonismo das nossas vidas, onde nossas escolhas fazem parte sempre de uma métrica comercial na busca de monetização através da nossa atenção e dos nossos dados, um casamento que produz mais e melhores resultados financeiros, dados que geram mais tempo de atenção “desatenção” que engolem a nossa dedicação e ampliam o fosso relacional, que dita o tom da produção, e do consumo na economia da desatenção.

Logo se tempo é dinheiro, como devem ser tratados os produtores e divulgadores de falso conteúdo? Devemos cobrar o tempo que nos é tomado pela desinformação? Podemos exigir das redes sociais a indenização das nossas horas perdidas com o delírio alheio dos adoradores de mentiras?

Quem deve ser responsabilizado pelo tempo que nos é roubado por conteúdos falsos? As plataformas, os produtores desse conteúdo lunático e mal intencionado? Quem se beneficia do tempo que nos é tomado? Qual seria a forma de recuperarmos monetariamente esse lapso na nossa ampulheta do tempo?

O nosso Código Tributário Nacional, conceitua que o tributo não se constitui em sanção de ato ilícito, e logo, qual seria então a forma de cobrança?

Claro que esse artigo guarda no seu propósito, a necessidade de termos um ponto de partida, para reflexão, mínima na criação de instrumentos que desestimulem e se possível punam a produção desenfreada da desinformação, que cobra um preço gigantesco da sociedade.

Os adoradores de mentiras seguem assim, caminham nas ruas, sem ver o tempo voar, sem olhar o mar o companheiro ao lado, os filhos, a esposa, tudo parece perder sentido e necessidade diante de um apurado design de tela onde o mundo de carne e osso parece ser tão distante, e o sorriso fácil para magnânima tela parece ser uma catarse, sem se preocupar com o tempo que perdem na divulgação de fake News ou no prejuízo que causam a reputações manchadas além do tempo tomado de amigos e familiares.

As redes dentro da sua lógica de atenção dão vazão a tudo que possa ser multiplicado, gerando mais compartilhamentos, curtidas e comentários e assim toda tristeza e mágoa que é despejada nela se multiplica, todo delírio ganha adesões e é por isso que as fake news nela se multiplicam.

O universo da desinformação, catalisado pelas redes sociais e seus algoritmos de atenção(desatenção), interferem no poder cognitivo daqueles que mergulhados em suas bolhas não se preocupam com a verdade investigativa.

E assim muitos e não poucos, parecem viver em um universo paralelo, onde é quase impossível estabelecer um dialogo na medida que o debate parte da fé e vontade em querer acreditar em mentiras, sem o mínimo de acuidade e apuração de fontes públicas sobre o que recebem de conteúdo, afinal na lógica de pertencimento das redes sociais, as mentiras são replicadas para que a pessoa que encaminhou (adoradores de mentira raramente produzem conteúdo próprio, eles apenas encaminham) se sinta protagonista no canhestro mundo que habitam.

Claro que o prejuízo é para todos, menos nos interessados na divulgação dessas falsas notícias, ou das plataformas que são instrumento de propagação desses delírios.

Uma pesquisa elaborada pelo Data Favela. instituto de pesquisa especializado nas comunidades brasileiras, aponta que 94 milhões de moradores das periferias já foram vítimas de fake news, um problema que bem poderia ser visto como epidemia, e que atinge 89% das pessoas nessas regiões.

Além do tempo veja quantas são as decisões tomadas equivocadamente por conta de mentiras, que vão desde o negacionismo científico, quando o assunto é vacinas, até a interferência direta em processos eleitorais.

Nessa mesma pesquisa, 25% dos entrevistados apontam que as fake news podem eleger maus políticos, enquanto 23% acreditam que elas podem manchar a reputação de alguém. Isso sem falar no efeito manada muitas vezes provocado por inverdades.

Na pesquisa apenas 21% dos entrevistados acreditam que as pessoas tenham as ferramentas e a capacidade para identificar uma fake News de imediato.

A procura pela verdade informacional, é fundamental para uma sociedade em desenvolvimento, onde o tempo efetivamente é dinheiro, afinal em lugar nenhum do mundo a ignorância foi o fermento para o desenvolvimento.

É preciso evoluir para instrumentalização jurídica que de forma pecuniária desestimule a produção e o compartilhamento de mentiras, libertando uma sociedade carente de falsos profetas.

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