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Carro elétrico, descompasso entre o mercado e a regulação

Novas baterias podem ajudar os carros elétricos a ter maior autonomia/Arquivo/Divulgação

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Quem vai dominar esse mercado de distribuição de energia para esses veículos? A primeira aposta seria as distribuidoras de energia

Por Charles Machado – SC

O sucesso na venda de automóveis elétricos vem ocorrendo na mesma proporção da dificuldade de abastecimento dessa nova frota.

Um claro exemplo de descompasso entre o mercado e a infra estrutura, são mais automóveis, cuja as montadoras crescem em média em torno de 12% ao mês em vendas e a instalação dos carregadores não consegue acompanhar essa demanda, o resultado é um crescimento desenfreado de consumidores descontentes.

Claro que toda dificuldade gera uma oportunidade, mas o problema, mas qual o tempo para a ofertar se equiparar a necessidade?

Se você ainda não te um carro elétrico certamente não está acompanhando esse problema, mas a disputa por um ponto de carregamento é a cada dia mais acirrada.

A regulação nas cidades que não exigem um número de equipamentos de recarga em estacionamentos, centros comerciais e áreas públicas, tem por sua inércia fechando os olhos para esse problema.

Logo pode-se também perguntar: Quem vai dominar esse mercado de distribuição de energia para esses veículos, por exemplo? A primeira aposta seria as distribuidoras de energia por sua capilaridade?

Claro que não afinal setores oligopolistas como os de energia, tem dificuldade para entender o novo, e quando entendem já é tarde. Então seriam os postos de combustível? Claro que não os distribuidores de derivados do petróleo não entenderam que é impossível lutar contra o inevitável, e por isso investem tão pouco em estruturas de carregamento, e com isso continuam espremendo seu velho negócio até a última gota, fazendo cara feia para os veículos elétricos, sem entender que o tempo de recarga pode gerar novos negócios com valor agregado ainda maior. E quem então?

Se eu fosse fazer uma aposta eu diria que o perfil da distribuição da energia para eletrificação da frota será totalmente diferente ao de combustíveis derivados do petróleo.

Todo movimento disruptivo cria um novo desenho, sem reproduzir o velho, afinal “o passado é uma roupa que não nos serve mais”.

O fornecimento de energia terá diversos atores, com um papel de destaque para as montadoras como BYD, TESLA e GWM, entre outras que estão priorizando os veículos eletrificados, essas montadoras estão lentamente percebendo que o inimigo de um elétrico são dois: disponibilidade para recarga e tempo de recarga.

Carro elétrico Renault Kwid Misto Brasília
Carro elétrico da Renault tipo Kwid que circula pelas ruas da Europa/Arquivo/Divulgação

Não existe almoço grátis

E como se resolve isso ofertando carregadores em parceria com todo e qualquer tipo de operador que mantenha um carro parado por mais de 30 minutos, como shoppings centers, estacionamentos, supermercados, empresas de parquímetros de rua, tudo em que culturalmente esse mesmo consumidor já esteja acostumado a deixar seu carro.

No futuro a oferta da energia será tão grande que na maioria dos lugares ela será oferecida aos donos de automóveis como quem oferta Wifi grátis em um café. A energia gratuita não será um diferencial, mas sim um requisito.

E quem paga essa conta? Simples não existe almoço grátis, considerando que o ticket de um supermercado depois de uma hora de compras seja superior a R$ 900,00 reais e que um carro carregando 6,5Kw/h esse supermercado estaria pagando para o consumidor cerca de R$ 3,25 o que representa na média dos automóveis atuais que rodam uma carga suficiente para rodar aproximadamente 50kms. Já pensou você para em um supermercado, faz suas compras e depois pega o seu carro com um aumento de 50kms na autonomia?

Bom lembrar que com a publicação da Resolução Normativa da Aneel 482/12, permitindo que o consumidor brasileiro possa gerar sua própria energia elétrica a partir de fontes renováveis ou cogeração qualificada, podendo inclusive fornecer o excedente para a rede de distribuição de sua localidade, criou-se um potencial mercado de micro e pequenos geradores de energia, logo imagine esse segmento com a adoção dos veículos eletrificados, onde milhões de veículos no curto e médio prazo poderão ser abastecidos nas nossas garagens?

Tente imaginar empresas com centrais de geração fotovoltaica e ou eólica em seus pátios abastecendo as suas frotas? São inovações que aliam economia financeira, consciência socioambiental e auto sustentabilidade.

A geração distribuída, além de reduzir o custo de abastecimento para milhões de pessoas, vai criar um redesenho completo em toda cadeia de logística no mercado de combustível, que deve ficar muito diferente, logo os milhares de caminhões transportando combustível em nossas estradas devem ter seu volume reduzido, os oleodutos que transportam combustível devem ter sua vazão reduzida, e o direito urbanístico vai caminhar para regulamentação que torne obrigatória postos de reabastecimento desses veículos elétricos, sejam eles caminhões, motos, ou bicicletas, além é claro das frotas de carga comercial em toda moradia multifamiliar e comercial coletiva.

A geração distribuída, é uma aliada da transformação digital, e não existe evolução sem um alinhamento regulatório, seja na produção de incentivos, pela renúncia fiscal, na incorporação de políticas tributárias estimulantes ou na obrigatoriedade do poder de polícia no regramento do direito de construir.

Para termos uma ideia desse atual descompasso, basta lembra que como referência mundial indica-se que deve existir um ponto de recarga para cada dez veículos elétricos, se tomarmos como base apenas a venda acumulada de janeiro a julho de 2024, onde foram vendidos cerca de 80 mil carros eletrificados (elétricos e híbridos plug in) já seria necessário a instalação de 8.000 novos carregadores, algo bem distante do que aconteceu.

Se essa lacuna não for preenchida rapidamente, teremos a repetição no Brasil do que já aconteceu na Europa e agora também acontece nos EUA, uma drástica redução na venda de novos carros eletrificados.

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