Voz única emprestou credibilidade ao regime militar, mas também tranquilizou muita gente por muito tempo
Por Genésio Araújo Júnior – DF
Morreu Cid Moreira. Você aí que é muito jovem e vive esses dias em que a intolerância sentou praça e os medíocres podem dizer tudo nas redes sociais, não imagina o que era um senhor com cabelos prateados, voz única, elegância internacional, dá um boa noite com uma credibilidade para que dormíssemos tranquilos.
Cid Moreira surgiu como o homem certo na hora certa. A intervenção militar dos anos 60 do século XX tinha virado ditadura e o regime precisava de uma rede de TV gigante, que dissesse que estava tudo tranquilo.
Leia – morreu o jornalista Cid Moreira, que apresentou o Jornal Nacional
E que era possível crescer e avançar sem democracia. Interessante é que Cid Moreira deu boa noite para acalmar na ditadura e deu boa noite no retorno da democracia.
Ninguém percebeu. Talvez sua competência fosse tão grande que pouco importava que ele tenha servido aos dois regimes.
Parece pouco provável que neste novo Brasil, mais rico que aquele, menos feliz que aquele, acreditasse no boa noite e que estava tudo tranquilo de um Cid Moreira hoje em dia. O Jornalismo vive a crise que a democracia também vive.
O Brasil do século XXI tem muita dificuldade em lidar com suas conquistas e suas decepções. Cid Moreira, com sua voz única ao dizer boa noite para 50 milhões de brasileiros todas as noites, parece hoje inacreditável, mas esse Brasil existiu.
Ouça o áudio do comentário do articulista