Ícone do site Misto Brasil

Uma fritura desnecessária

Lula da Silva e Nísia Trindade Misto Brasil

Lula da Silva com a ex-ministra da Saúde Nísia Trindade/Arquivo/Agência Gov

Compartilhe:

Uma consequência do “estilo Lula de fritura” é o aumento da desconfiança por parte da já problemática base aliada

Por André César – DF

É do conhecimento geral que, apesar de suas qualidades técnicas e profissionais, a agora ex-ministra Nisia Trindade não entregou o que dela se esperava no comando da Saúde. Pelo contrário, sua gestão foi uma decepção e registrou problemas graves – ainda mais estando à frente da mais poderosa pasta da Esplanada, carregada de recursos.

Dito isto, nada justifica o comportamento do presidente Lula da Silva (PT) nesse processo, que simplesmente fritou publicamente Nísia. Na prática, ela se transformou em uma espécie de “ex-ministra” em atividade, em um lento e longo esvaziamento de suas atribuições. Algo totalmente desnecessário.

O presidente da República, como se sabe, sempre teve dificuldades para afastar aliados e colaboradores próximos. Isso é notado desde seu primeiro mandato, mas com Nisia o titular do Planalto se superou. O petista teria perdido a mão?

Cabe apontar as falhas da gestão Nisia desde sua posse. Dois casos em especial chamam a atenção, o problema na distribuição de vacinas (a dengue simboliza essa realidade) e a greve nos hospitais federais no Rio de Janeiro, abordada de maneira no mínimo atabalhoada pelo ministério. Uma comédia de erros.

Agora, o remanejamento de Alexandre Padilha das Relações Institucionais para a Saúde representa, a princípio, uma solução de segurança. Médico e bastante próximo de Lula, ele já ocupou a pasta durante o governo de Dilma Rousseff (PT). No entanto, nada garante que, caso não tenha bom desempenho na nova “casa”, não passe por situação similar à vivida por Nísia. O tempo dirá.

Uma consequência do “estilo Lula de fritura” é o aumento da desconfiança por parte da já problemática base aliada.

Políticos de todos os partidos da chamada frente ampla que compõem o atual governo podem não se sentir motivados a assumir cargos de primeiro escalão. Isso vale especificamente para o Centrão, que vive uma relação de “morde e assopra” com o Planalto.

Agora, a esperada reforma ministerial teve seu pontapé inicial. A depender da condução a ser efetuada por Lula da Silva, ela pode gerar mais desafetos que colaboradores fiéis, o que resultaria em um saldo negativo para o governo. As ações do presidente apontarão o futuro imediato da atual administração.

Enfim, apesar dos problemas de Nísia à frente da Saúde, não se pode deixar de afirmar que Lula da Silva errou ao conduzir seu processo de afastamento. Outras situações desse tipo, caso se repitam, podem isolar ainda mais o titular do Planalto.

Algo que seria muito ruim para um governo que já enfrenta queda significativa em seus índices de popularidade. O presidente precisa revisar seus métodos.

Sair da versão mobile