Texto de Carolina Silva Pedroso
Em 19 de fevereiro de 2017, realizou-se o primeiro turno das eleições nacionais no Equador. Além da escolha de uma nova composição parlamentar, os equatorianos foram escolher um novo presidente, após uma década de administração Rafael Correa. O atual mandatário, que impulsionou a chamada Revolução Cidadã, é frequentemente comparado ao líder venezuelano Hugo Chávez, com quem estabeleceu alianças, porém seguiu uma trajetória suis generis.
Intelectual engajado, Correa elegeu-se com uma plataforma de refundação estatal, com base em um discurso voltado para a redução das desigualdades sociais e a proteção ambiental. Conhecido por ser uma das nações mais empobrecidas da América do Sul, o Equador possuía uma dívida social enorme e, nesse sentido, as políticas implantadas por ele garantiram às camadas mais baixas seus direitos sociais básicos e as incluíram na economia de consumo.
Ademais, o histórico de grande instabilidade política do país, que chegou a ter sete presidentes na década que antecedeu a ascensão correísta, apresentava-se como um obstáculo adicional para esse outsider da política nacional. A Constituição de Montecristi, elaborada e aprovada em 2008 pela população, prevê mecanismos legais de estabilização política que tem funcionado para gerar a segurança jurídica mínima para o funcionamento do Estado.
Embora também seja exportador de petróleo, como a Venezuela, o Equador é um dos países que melhor preserva sua biodiversidade e foi o primeiro país a reconhecer em seu marco legal a natureza como sujeita de direitos e a plurinacionalidade de seus cidadãos, reconhecendo o quéchua como um de seus idiomas oficiais.
Apesar dos notáveis avanços que lhe renderam altos níveis de popularidade no decorrer desses dez anos, a personalização em torno da figura de Correa e os muitos embates que ele travou com setores privados no país, de maneira mais destacada com os meios de comunicação, fizeram com que houvesse também contestação de seu governo.
Em um contexto de enfraquecimento de governos populares na América Latina, e diante da impossibilidade constitucional de tentar reeleger-se novamente, Correa apoiou a candidatura de Lenin Moreno, que de 2007 a 2013 foi seu vice-presidente.
Cadeirante e militante da causa dos deficientes físicos, Moreno é apontado como um expoente importante da esquerda latino-americana e, no centenário da Revolução Russa, desperta interesse não só por ser homônimo do líder russo, mas sobretudo por ser uma figura mais discreta que Correa. Entre 2014 e 2016, a convite de Ban Ki Moon, liderou a pasta de Deficiência e Acessibilidade das Nações Unidas e teve uma atuação destacada junto a empresas, organizações e governos no sentido de incluir os deficientes e promover a sustentabilidade.
Seu principal opositor nas eleições é o banqueiro Guillermo Lasso, que já trabalhou com Jamil Mahuad, presidente responsável pela dolarização do Equador em 2000, e com Lucio Gutiérrez, líder que derrubou Mahuad e, posteriormente, foi também retirado do poder.
Ou seja, além de representar o setor financeiro, Lasso integrou governos que foram altamente contestados pela população, mas que, ainda assim, logrou ser o segundo candidato nas pesquisas de opinião. Enquanto Moreno exprime o desejo de, pelo menos, 30% da população em manter os rumos do país, Lasso traduz o sentimento de volta a um passado mais liberal em termos econômicos e conservador politicamente.
Assim como os demais vizinhos sul-americanos, o Equador encontra-se em um impasse entre um projeto que vigorou nos anos 1990 e um que triunfou nos anos 2000. Por ora, não há nada de novo no front.
*Carolina Silva Pedroso é Doutoranda em Relações Internacionais pelo programa San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP e PUC-SP).