Nem todos os grupos à esquerda aderiram ao “Fora, Temer“, e nem todos os ativistas à direita acham que o presidente deve permanecer no poder para levar adiante suas reformas econômicas. Conforme a crise política se torna mais complexa, movimentos e ativistas nos dois polos ideológicos têm rejeitado posições que antes pareciam dominantes em cada campo.
Um dos principais formuladores da política externa do governo Lula e hoje assessor do PT no Senado, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães foi um dos primeiros expoentes da esquerda a se posicionar publicamente contra o “Fora, Temer”, escreve João Fellet, da BBC Brasil.
Em artigo publicado em maio, ele escreveu que “quanto mais cedo Michel Temer deixar o poder, pior será para a oposição, pois sua saída acelerará a aprovação das reformas” trabalhista e previdenciária.
Para Aldo Fornazieri, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), embora quase todos os partidos e movimentos na esquerda defendam publicamente a saída de Temer, apenas parte do grupo deseja realmente que isso ocorra.
Ele afirma que só tem se empenhado pela queda do presidente a esquerda mais ligada a movimentos sociais e sindicatos.
Já o PT, segundo o professor, não tem se esforçado pela saída do peemedebista – ainda que a senadora e nova presidente do partido, Gleisi Hoffmann (PR), diga que a queda de Temer é prioridade.
Fornazieri avalia que esse é um “discurso para o público externo”, mas que o PT adota uma postura dúbia.
Já na direita, a delação da JBS e o julgamento da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) fizeram com que alguns movimentos e figuras que evitavam pedir a saída de Temer passassem a demandá-la abertamente.
Autores do pedido de impeachment de Dilma Rousseff, os juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Jr. e Janaina Paschoal pertencem ao grupo.
“Entendo que o presidente deveria deixar o cargo, de preferência por meio de renúncia, para não prejudicar ainda mais o país”, diz Paschoal à BBC Brasil.