À sombra do Lulismo ou entre Puctum e Studium

Dilma Rousseff
Dilma foi investigada na ação penal por organização criminosa/Arquivo
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A imagem de Dilma Rousseff sorrindo à sombra de Lula foi a estreia da ex-ministra-chefe da Casa Civil como candidata à Presidência da República. O instante da foto se deu num domingo 13, de um junho brasiliense acinzentado, do ano de 2010. O então presidente Lula elencou, na convenção petista, Dilma Rousseff como sua sucessora e Michel Temer com vice na chapa. A dupla iria ganhar a eleição daquele ano e seria reeleita em 2014 na toada: “Não é por acaso que depois desse grande homem, o Brasil possa ser governado por uma mulher, uma mulher que vai continuar o Brasil de Lula, com alma e coração de mulher”.

No olhar subjetivo sobre o instantâneo, o sorriso de felicidade da possível primeira mulher a ser eleita para o Planalto sucumbe ao impacto de uma sombra que iria segui-la pelos dois mandatos (2011-2014 e 2015 -2016). O futuro vice-presidente, Michel Temer, deixa-se desenhar um maroto sorriso parcialmente escondido pela sombra de Lula. No canto direito da foto há um vazio que desequilibra toda a imagem como se o futuro estivesse à espreita.

No dia 31 de dezembro de 2018, a saga dessa fotografia se encerrará. O presidente Michel Temer, que chegou ao Palácio do Planalto por meio de um processo ambivalente entre Impeachment/golpe em Dilma Rousseff, passará o cargo para Jair Bolsonaro e Lula está preso. Um turbilhão de fatos históricos aconteceu e deixou o Brasil muito longe do plano político desenhado por Lula no longínquo domingo de 2010.

Essa fotografia sinuosa me remete a Roland Barthes que, em seu livro A Câmara Clara, conceituou que Studium é a leitura da fotografia guiada pela consciência, pela ordem natural da imagem e ligada ao contexto cultural e técnico da imagem. E que Punctum é o caráter subjetivo formado pelo interesse de quem olha, os detalhes que tocam o espectador e os mesmos que podem até incomodá-lo.

Ao olhar para a foto de Dilma sombreada por Lula, muitas interpretações podem passar pela cabeça do observador. Mas não há como negar a força da imagem que, calada pelo tempo, diz tanto sobre os protagonistas e sobre o provável fim, ou mesmo um recomeço, da era lulista. O que importa: a fotografia é e ponto final.

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