Rússia por trás dos coletes amarelos

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Trolls russos teriam tentado incitar o movimento de protesto dos “coletes amarelos” na França, noticiaram veículos de imprensa dos Estados Unidos e Reino Unido no começo de dezembro. Entre outras ações, colocaram em circulação imagens falsas dos protestos.

Como prova, os meios citaram também informações da Alliance for Securing Democracy. Essa iniciativa da ONG americana German Marshall Fund (GMF) observa contas do Twitter suspeitas de promover a influência russa online. Nelas, os protestos dos “coletes amarelos” foram o tema preferido por toda uma semana.

A peça central do estudo é um painel em que se pode acompanhar, em tempo real, as atividades de cerca de 600 contas seletas, em termos de hashtags, temas e fontes. A identidade dos usuários permanece secreta.

Da página do projeto denominada “Hamilton 68” consta existirem três tipos de contas do Twitter: as que são abertamente pró-russas ou mantêm conexões com Moscou; as mantidas por “fábricas de trolls” na Rússia e fora dela; e aquelas cujos usuários “reforçam” os temas russos. Entre as fontes divulgadas por essas contas, estão quase sempre mídias russas no exterior, como a RT e a Sputniknews.

Normalmente esses tuítes tratam de política americana, explica à DW Bret Schafer, especialista em redes sociais do GMF. Claro está que as contas observadas tuítam para o público anglófono, e portanto sua influência sobre os protestos na França é reduzida: “A meta é, antes, manter vivos certos temas, desacreditar o Ocidente como um todo e lançar luz negativa sobre a democracia liberal.”

Maxime Audinet, especialista em assuntos russos do Instituto Francês de Relações Internacionais (Ifri) confirma: “As atividades de informação da Rússia não devem ser percebidas como um instrumento para mobilizar novos ativistas para os ‘coletes amarelos’ ou incitar à violência.”

“A cobertura jornalística russa visa reforçar a polarização do debate público e influenciar a percepção desse movimento na França e no exterior, de modo a passar a imagem de um país profundamente dividido, à beira da guerra civil.”

A politóloga Tatiana Stanovaya, residente na França, vê a questão de forma semelhante: a Rússia se aproveita da debilitação do presidente Emmanuel Macron para disseminar “teses sobre o ocaso da Europa, a crise da democracia e animosidade crescente contra o establishment”. E “não vou dizer que deixou de ter uma grande influência”, conclui.

“Não os ‘coletes amarelos’, mas sim o presidente Macron é o alvo primário das atividades russas nas redes sociais”, afirma Ben Nimmo, especialista em segurança informática do think tank  americano Atlantic Council. No fim de novembro, ele descreveu detalhadamente uma “operação francesa” de presumíveis trolls russos nas redes sociais, em seu relatório para o Digital Forensic Research Lab (DFRL), um projeto do Atlantic Council.

A equipe de Nimmo conseguiu reconstituir alguns detalhes de contas bloqueadas: a maioria era em inglês, porém 12 contas do Instagram eram em francês. Segundo a companhia Facebook, elas contavam 76.000 seguidores, dos quais 12.400 na França.

“As contas francesas fingiam ser gente de todos os tipos: um parecia ser nacionalista, outro, ultracomunista. Algumas se apresentavam como mulheres africanas”, relata Nimmo. A maioria das ações era “inofensiva”, mas cinco das 12 contas difundiam ataques verbais e visuais contra o presidente da França. Numa fotomontagem, por exemplo, Macron aparecia como capataz de escravos.

O Facebook não revela quem está por trás das contas: “Esta tentativa poderia estar relacionada à Internet Research Agency [uma firma de São Petersburgo, denominada ‘fábrica de trolls’ na mídia ocidental]”, admite, acrescentando não ser possível afirmá-lo definitivamente.

Explicando o número modesto de contas, Ben Nimmo diz que, por um lado, as possibilidades dos trolls russos na França são limitadas, por outro a “operação” talvez só estivesse no início. Nos Estados Unidos, a Rússia começou suas atividades de propaganda online cerca de dois anos e meio antes das eleições presidenciais de 2016, lembra.

Por isso é preciso ver tais casos num contexto mais amplo: “A questão não são os ‘coletes amarelos’, pois tais operações normalmente têm uma meta de mais longo prazo”, explica o especialista do Atlantic Council. E a meta é Macron. (Da DW)

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