O governo experimentou sensações distintas na sessão plenária de ontem do Senado Federal. Ele pôde comemorar a aprovação, em primeiro turno, do texto-base da proposta de reforma da Previdência. No entanto, um destaque manteve o abono salarial para trabalhadores de baixa renda. A medida foi uma ducha de água fria para o Planalto e a equipe econômica.
Confirmando as expectativas, o texto-base foi aprovado sem maiores sustos. Foram 56 votos favoráveis e 19 contrários. A oposição fez sua parte e se utilizou de todos os instrumentos regimentais para ao menos protelar a votação. Sem sucesso, como se viu.
No caso do destaque, de autoria do Cidadania, ficou estabelecido que terá direito ao abono quem receber até dois salários mínimos, cerca de R$ 2 mil. A proposta aprovada pela Câmara dos Deputados estabelecia um teto de R$ 1,3 mil. Desse modo, a previsão de economia com a reforma será reduzida em R$ 76,4 bilhões em dez anos. Em tempos de escassez de recursos, esse dinheiro fará falta.
A votação dos destaques restantes, dez no total, será retomada ainda hoje, em sessão plenária extraordinária. O objetivo dos parlamentares é concluir o primeiro turno ainda essa semana.
A derrota no destaque do abono reflete a falta de articulação política do governo. Não existe propriamente uma base aliada, e essa carência fica evidente em momentos mais críticos, como a votação de um destaque importante dentro da proposta de reforma da Previdência.
Existem ainda outros problemas para a conclusão da votação da reforma. Um deles é o atraso na liberação de emendas parlamentares, um ponto que foi acordado entre as lideranças partidárias e o Planalto. Os deputados já receberam parcela do negociado, mas os senadores ainda esperam sua parte. O ambiente na Casa é de desconfiança e desconforto, um quadro ruim para um processo de votação delicado como a reforma da Previdência.