Texto de Leiliane Rebouças
Tem muita gente em Brasília que não se importa com a luta pela preservação do nosso patrimônio cultural; que torce o nariz pra gente que defende o tombamento da cidade, pra gente que quer ver o Teatro Nacional restaurado, que quer ver o Museu de Arte de Brasília funcionando novamente, que quer ver os monumentos conservados, que se preocupa com a restauração das casas de madeira da época da construção nos acampamentos pioneiros da Vila Planalto, da Metropolitana…
Que torce o nariz pra gente que quer ver a igrejinha do Paranoá aberta e conservada e a igrejinha da Candanga também,! E que quer ver o HJKO (e Museu Vivo da Memória Candanga) e o Catetinho em boas condições! Que adoraria ver a casa histórica da Granja do Ipê toda restaurada por ser da mesma época do Catetinho; que se preocupa com a restauração do centro histórico de Planaltina.
Torcem o nariz pra gente que sabe que nossa história não é apenas a história dos gênios e dos vencedores, que também é a história das pessoas comuns e que são invisibilizadas, mas que essa história dos excluídos também tem importância!
Essa falta de sensibilidade com a preservação do nosso patrimônio cultural da maioria das pessoas é bem curiosa, porque muitas dessas criaturas adorariam viajar para Paris e conhecer o Louvre; Notre Dame, etc… ou quando têm condições financeiras viajam pelo Velho Mundo tirando selfies na frente dos monumentos históricos e, no entanto, pouco valorizam o patrimônio das suas próprias cidades, do lugar onde elas vivem!
Já outros, podem até entender alguma coisa de preservação de patrimônio, mas seu elitismo só permite aceitar a preservação do Plano Piloto do Lúcio Costa, selecionando com bases equivocadas o que tem valor e o que não tem valor,, segundo sua restrita visão e falta de sensibilidade. Acham que nós não sabemos que essa escolha sobre o que é visto e o que é ocultado é uma escolha política!
Esse descaso e falta de educação patrimonial se reflete na paisagem das nossas cidades e também na representação política, pois elegemos igualmente quem dá pouca importância para a conservação e preservação do nosso patrimônio! E ai, meus queridos, sabemos o resultado catastrófico!
O Museu de História Natural da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, que sofreu um incêndio por falta de manutenção adequada é um exemplo do que o descaso, a falta de investimento na conservação e a omissão podem causar : um dano irreparável!
Nós ativistas pela preservação do patrimônio, somos poucos, somos incompreendidos na maioria das vezes. E por quê? Porque falta na nossa cultura uma consciência preservacionista. E isso em todos os sentidos, seja na questão patrimonial seja na preservação do meio ambiente.
Somente uma mudança por via da educação patrimonial pode transformar essa realidade! E eu acredito que se as novas gerações aprenderem a importância de preservar a Memória, a História, as tradições culturais, e tudo o mais que compõe o nosso patrimônio cultural, arquitetônico, histórico e artístico, o nosso patrimônio material e imaterial, poderemos ter esperança que nosso legado cultural permanecerá por muitos séculos
Brasília é Patrimônio Cultural da Humanidade e esse título não deve e nem pode ser usado só quando é conveniente sob o risco de descaracterizar a cidade e perder a parte da história de quem a construiu. Somos uma cidade nova que está repetindo erros tão velhos! É nosso dever não deixar o nosso legado cultural ser consumido pelo fogo do descaso governamental, da sanha dos especuladores imobiliários, da falta de investimentos em conservação e da ignorância.
(Leiliane Rebouças é escritora e bacharel em Relações Internacionais)