Depois de fechar 2019 com uma estimativa mais otimista para o desempenho da economia neste ano, aumentou a desconfiança de que o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) poderá ficar, novamente, abaixo do esperado. Se no começo de janeiro 2% era visto com o piso para o crescimento do PIB, esse patamar agora já começa a ser considerado como um teto por alguns analistas.
Pesquisa divulgada nesta segunda-feira (17) pelo Banco Central indica que a expectativa do mercado financeiro para o crescimento da economia em 2020 caiu de 2,30% para 2,23%, conforme o Relatório de Mercado Focus. Há quatro semanas, a estimativa de alta era de 2,31%. Dois indicadores divulgados na semana passada reforçam a cautela com a retomada do crescimento.
O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) indica que a economia brasileira cresceu 0,89% no ano passado. O resultado, que ficou abaixo das expectativas do mercado, confirma que a recuperação da economia brasileira perdeu fôlego ao longo de 2019 e pode demorar mais tempo que o esperado para voltar aos níveis pré-crise. Com isso, os resultados projetados para 2020 também podem ser revistos para baixo.
Já o varejo nacional, conforme o IBGE, teve leve retração de 0,1% em dezembro de 2019, na comparação com novembro, interrompendo sete meses seguidos de avanço nas vendas. No acumulado do ano passado, o setor cresceu 1,8% e fechou o terceiro ano consecutivo de taxas positivas, conforme os dados da Pesquisa Mensal de Comércio. Na comparação com dezembro de 2018, houve avanço de 2,6% nas vendas.
Para que o cenário de crescimento se confirme neste ano há alguns fatores que devem ser acompanhados nos próximos meses. A epidemia do coronavírus na China aumentou a incerteza sobre o desempenho da economia mundial. Um menor crescimento chinês e, consequentemente do mundo, prejudica o Brasil, grande exportador de commodities, mas ainda não é possível saber o impacto na economia mundial.
Se o mundo apresenta um cenário menos amigável, o contexto interno ainda é de muita dúvida sobre a continuidade das reformas propostas pelo governo Bolsonaro, principalmente a tributária e a administrativa. Embora haja uma ambiente mais favorável no Legislativo, a articulação política ainda é um problema para o governo.
Além da troca de ministros na Casa Civil, com a saída de Onyx Lorenzoni para a Cidadania e a chegada do general Walter Braga Netto, que não deixa claro como funcionará o relacionamento com o Congresso Nacional, as dificuldades de articulação da base aliada do governo, verificada no ano passado, ainda não foram resolvidas.
A queda de 1,1% na produção industrial brasileira em 2019 em relação a 2018, depois de dois anos consecutivos de expansão, também indica que a recuperação iniciada no ano passado não é tão exuberante como a verificada em anos anteriores. Maior crescimento da indústria significa empregos de melhor qualidade.
Os dados do IBGE mostram que em dezembro, a produção da indústria caiu 0,7%, na segunda taxa negativa seguida – acumulando queda de 2,4% nos últimos dois meses do ano. Foi o pior resultado para meses de dezembro desde 2015, quando houve queda de 2%, segundo a série histórica da pesquisa.
Do lado positivo, além da disposição do Legislativo em levar adiante a votação da reformas estruturais e do maior otimismo dos empresários, podem ser destacados a taxa básica de juros, que deve ficar em 4,25% pelo menos até dezembro deste ano, e o câmbio mais apreciado, que estimula as exportações e melhora a competitividade dos produtos brasileiros