A greve da Polícia Militar do Ceará estava praticamente escondida do grande noticiário até que o senador Cid Gomes (PDT) levou dois tiros no peito desferido por um policial mascarado. Depois disso, identificamos outros movimentos de policiais pelos estados.
Algumas autoridades temem que o movimento paredista contamine outras corporações. O efeito cascata já foi visto com seus absurdos praticados durante as greves e as suas consequências, como o aumento da criminalidade.
Cid Gomes – antes de botar a retroescavadeira em cima dos policiais mascarados e amotinados num quartel de Sobral -, fez campanha político-partidária pelas ruas da cidade cearense. Com megafone em punho, passeou como carona no trator que puxava uma carreata.
Depois, com o mesmo megafone, ameaçou os grevistas. Deu prazo de cinco minutos para que desmontassem o piquete e saíssem com famílias. Não foi atendido. Assim, avançou com a retroescavadeira acompanhado por partidários sobre os amotinados. Há quem defenda que os disparos contra o senador foram em legítima defesa.
Os dois episódios – a carreata e os tiros – ilustram muito bem o nível de contaminação perversa que mistura polícia e política. Em nome da defesa das forças policiais, todo o tipo de absurdo é praticado. Há até uma bancada da bala no Congresso Nacional. Nas assembleias legislativas, a contaminação político-partidária das polícias é muito nítida.
Cid Gomes extrapolou como parlamentar. Abusou de sua autoridade. Acha que é o “coronel” de Sobral, que tudo pode em nome de seus interesses. A Polícia Militar, com seus agentes mascarados portando armas e ameaçando a população, se transformou em milícia. Os agentes viraram integrantes de gangues de rua, como àquelas que se manifestaram pelos estados com ataques a ônibus e às instituições públicas, num exemplo de força e organização criminosa.
Não há diferenças entre os abusos nos protestos dos militares e os ataques de marginais do Primeiro Comando da Capital (PCC), do Terceiro Comando ou do PV.
Não é possível defender Cid Gomes nem os grevistas. Há um abuso externado nestas manifestações públicas de lado a lado. É um atropelamento que extrapola o bom senso, a harmonia entre grupos e opiniões e à legislação. Pelo que se depreende, tudo pode em nome de ações nem sempre legais ou humanitárias.
Políticos e gestores públicos – que deveriam preservar o equilíbrio de uma sociedade dividida -, são os responsáveis por esses abusos. Incentivam com suas palavras (e em muitos casos com a própria participação) o caldo de abusos. Seus discursos são combustíveis para os absurdos.
Policiais devem respeitar a lei em todos os seus parágrafos, como todo mundo. Os políticos têm o dever de negociar, princípio basilar da política. Ponto.