A situação não é nova. Desde que assumiu o Planalto, o presidente Jair Bolsonaro tem por hábito “fritar” aliados que se destacam mais que ele. Assim ocorreu com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e com o titular da Justiça, Sérgio Moro. Ambos, ao final do processo, conseguiram permanecer em seus cargos.
A história se repete agora com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Desde a eclosão da crise gerada pelo novo Coronavírus, o titular da Saúde tornou-se a figura central do governo. Com seu estilo didático e tranquilo, ele tem conseguido passar segurança para um país aturdido pelos eventos recentes. Isso, é claro, irritou o presidente.
O ápice desse quadro se deu no último final de semana. No sábado, 28 de março, Mandetta fez um duro e realista discurso, criticando aqueles que defendem o abrandamento das medidas restritivas adotadas em todo o Brasil – Bolsonaro entre eles.
A resposta do presidente da República foi rápida e incisiva. Contrariando todas as recomendações, no domingo, 29 de março, ele saiu às ruas do Distrito Federal para abraçar pessoas e tirar fotos. Recado mais claro impossível.
Bolsonaro está sendo pressionado por setores da economia que querem a retomada imediata da normalidade, mesmo que isso custe vidas. Nesse sentido, o ministro da Saúde é um obstáculo e, conhecendo-se o estilo do presidente, não causará espanto sua demissão.
O eventual afastamento de Mandetta, porém, terá seus custos. O partido do ministro, o DEM, dificilmente aceitaria a demissão de uma de suas principais estrelas e, no limite, poderia até se retirar em definitivo do governo. Também o eleitorado teria dificuldades para entender tal decisão de Bolsonaro. Por fim, a comunidade internacional veria essa medida como mais um arroubo de um presidente limitado.
Enfim, o jogo está sendo jogado. Bolsonaro segue aumentando a aposta, mesmo com poucas cartas ainda em mãos.