Texto de Marcelo Rech

Historicamente, o Brasil se destaca no cenário internacional graças à excelência de sua diplomacia. Nos últimos anos, essa percepção tornou-se ainda mais forte graças ao trabalho das Forças Armadas por meio da Diplomacia de Defesa, aspecto que ganhou maior relevância a partir do comando ininterrupto da Missão das Nações Unidas de Estabilização do Haiti (MINUSTUAH), que revolucionou a doutrina das missões sob mandato da ONU.

O Brasil participou de mais de 50 operações de paz e missões similares, contribuindo com mais de 55 mil militares, policiais e civis, com destaque para as ações das Forças Armadas nas operações em Angola, Moçambique, Timor-Leste, e, mais recentemente, no Haiti e no Líbano. Em todas as missões, os militares foram essenciais para uma melhor e mais profunda compreensão do Brasil como ator internacional.

Atualmente, o país integra, com 258 efetivos, nove missões das Nações Unidas: UNIFIL (Líbano), UNMISS (Sudão do Sul), MINURSO (Saara Ocidental), MINUSCA (República Centro-Africana), MONUSCO (República Democrática do Congo), UNAMID (Darfur), UNFICYP (Chipre), UNISFA (Abyei), e UNMHA (Iêmen).

Cada uma dessas missões conta com sua própria complexidade geopolítica, influências, interesses políticos e econômico-comerciais. Para uma atuação relevante, é preciso ser respeitado pelos jogadores locais e regionais e o Brasil tem obtido esse respaldo, muitas vezes, em meio à pressões das grandes potências que não gostam de novos atores fazendo a diferença.

No Líbano, por exemplo, comandamos a única Força Tarefa Marítima associada à uma missão da ONU. No entanto, a presença na região mais sensível do planeta e o protagonismo conquistado pelos militares no diálogo com todos os atores relevantes dos conflitos no Oriente Médio, é algo praticamente inexplorado pela diplomacia brasileira.

A FTM, o primeiro e único componente naval a integrar uma missão de manutenção da paz das Nações Unidas, é composta por sete navios de seis países e tem como principal missão, impedir a entrada no território libanês, por via marítima, de armamento não autorizado e apoiar o adestramento da Marinha daquele país. Evitar o ingresso de armas que abastecem a milícia Hezbollah, não é pouca coisa, sem contar o que acaba não chegando aos palestinos do Hamas, na Faixa de Gaza.

Some-se à essas ações, a importância da Base Industrial de Defesa (BID) que tem potencial para fazer parte de uma grande estratégia nacional, além de fatores indissociáveis para a elaboração de uma política externa em qualquer país que almeje ser “global player”, segundo o Secretário de Produtos de Defesa (SEPROD) do Ministério da Defesa, Marcos Degaut.

Na sua avaliação, ainda pesa sobre o setor de Defesa, o estigma da desconfiança, provocada por percepções preconceituosas e anacrônicas, além do desconhecimento sobre o tema, o que também acabou por excluir esta agenda do eixo político nacional. Faz-se necessário, ainda, que haja uma maior convergência entre a Defesa e a Diplomacia, articulação necessária para que se eliminem ruídos e se harmonizem percepções.

Um exemplo, diz respeito à Amazônia onde as Forças Armadas atuam com cerca de 25 mil militares, na proteção das fronteiras, mas também no atendimento às comunidades isoladas e aldeias indígenas. Por meio da Operação Verde Brasil II, os militares têm sido empregados em dezenas de operações de combate ao Covid-19, queimadas, garimpos ilegais, contrabando de madeira, narcotráfico, entre outros. Os militares também atuam diretamente na recepção de refugiados venezuelanos, pelo menos desde 2016.

No entanto, no exterior, pouco se sabe a respeito. A Operação Acolhida, modelo de gestão de uma crise internacional, ainda é pouco compreendida pela comunidade internacional. Trata-se de um ativo, assim como o comando da MINUSTAH ou da FTM UNIFIL, próprio da diplomacia, capaz de projetar não só uma imagem positiva do Brasil, como de fortalecer o papel protagonista do país.