A Medida Provisória 961, que a partir de maio flexibilizou as contratações públicas para o combate à pandemia do novo coronavírus, provou ser uma peneira que também facilitou a corrupção. Somente o Ministério Público Federal instaurou cerca de 3.200 procedimentos extrajudiciais e pelo menos 2.100 processos judiciais de natureza criminal. Desde o início da crise, R$ 20 bilhões já foram destinados aos estados e municípios para combater a pandemia da Covid-19.
A Polícia Federal deflagrou dezenas de operações em todo o país. Pelo menos R$ 1,5 bilhão envolve algum tipo irregularidade, e o prejuízo para os cofres públicos é calculado em mais de R$ 200 milhões. Entre maio e final de julho, agentes federais realizaram 194 operações, segundo contagem feita pelo Misto Brasília. A maioria dessas operações foi para combater o crime do colarinho branco, como na Secretaria da Educação de Juazeiro do Norte (CE) e contra fraude em licitação realizada em Macapá (AP).
Um levantamento da assessoria UGP Brasil, com sede em Brasília, concluiu que a MP permitiu o superfaturamento de produtos e serviços, fraudes na utilização dos recursos e casos de corrupção em vários estados do país. O diretor executivo da empresa especializada em consultoria, Alfredo Dezolt, observou que as irregularidades no combate à pandemia estão presentes também em aquisições que não se aplicam às regras da MP, sejam por causa do valor ou da finalidade. O economista ensina que “os procedimentos de contratação não devem apresentar inconsistências formais e materiais”. mas o problema é o mesmo, é a corrupção.
No Rio de Janeiro estão sendo investigados desvios em compras de R$ 700 milhões. Em São Paulo, a aquisição de três mil respiradores pelo valor de R$ 550 milhões é alvo de investigação. Em Santa Catarina, a suspeita recai sobre a compra de 200 respiradores adquiridos no valor de R$ 33 milhões. No Acre, é investigado a compra de 70 mil litros de álcool em gel e cerca de 1 milhão de máscaras no valor de R$ 7 milhões. No Pará, a Polícia Federal investiga a compra de 400 respiradores por R$ 50 milhões e teria, supostamente, a participação do governador.