Texto de Renato Candemil
Em uma linguagem bastante popular, ao citarmos o termo “depressão”, logo nos vem à mente uma definição associada ao estado afetivo de tristeza, ou ainda, algo simples como uma doença qualquer, e pior ainda, algo passageiro. No entanto, a depressão é uma doença psiquiátrica crônica, recorrente, e que atualmente aflige milhares e milhares de pessoas, tanto no âmbito familiar como no meio corporativo empresarial.
A reflexão que trago a você leitor, diz respeito ao campo da Governança Corporativa onde os índices de depressão estão se apresentando de forma desastrosa. O estresse físico e psicológico do ambiente corporativo (entende-se como ambiente corporativo não o espaço físico da organização, mas sim o ambiente intrínseco da própria organização), por si só já agrava esse problema, afetando de forma direta a pessoa e por consequência o desempenho da empresa.
Percebam que um líder “saudável” por exemplo, ao se deparar com uma adversidade qualquer, irá sofrer, ficar triste, mas sem dúvida alguma encontrará uma forma de solucionar e superar essa adversidade. Mas, um líder doente, acometido da depressão, irá encontrar barreiras intransponíveis nessa mesma adversidade.
O resultado disso, acarretará sem sombra de dúvidas, além do problema grave de saúde individual, uma piora constante no desempenho da Organização como um todo.
Estamos vivendo um momento único na história recente de nosso país, por conta dessa pandemia e o Covid-19. A necessidade de isolamento social propiciou a abertura de novas frentes de trabalho, entre as quais o teletrabalho ou home office. O ambiente corporativo deixou as fronteiras do espaço físico da empresa para invadir a casa dos seus gestores, líderes e demais colaboradores.
Numa análise preliminar, o sistema corporativo como um todo pode até estar satisfeito, pois de imediato as vantagens aparecem logo, como por exemplo, o ganho no tempo dispendido com deslocamento, a economia financeira com despesas de transporte, alimentação e vestuário, maior produtividade no desempenho profissional, e por aí vai. Talvez até, pensem alguns, um estímulo para uma vida familiar mais equilibrada.
Será?
A reflexão que procuro apresentar, diz respeito a outra faceta, bastante preocupante na adoção do teletrabalho ou home office no ambiente da Governança Corporativa.
O distanciamento físico entre a empresa, seus líderes e seus liderados, cria por si só uma certa independência na relação profissional dos envolvidos, acarretando assim diversas situações imperceptíveis inicialmente aos olhos da organização.
O prolongamento excessivo da jornada de trabalho no ambiente caseiro, a intensificação da atividade laborativa e a sobreposição entre essas atividades e as atividades da vida privada e familiar, acabam por desencadear um aumento significativo dos níveis de estresse e de ansiedade.
Soma-se a isso, na maioria dos casos, a total falta de acompanhamento psicológico fornecido pela organização, bem como qualquer ferramenta de gestão para medir os níveis de estresse, de ansiedade e de tristeza, nesse novo ambiente profissional. A casa passa a ser, do dia para a noite, a extensão da empresa, juntando no mesmo ambiente físico o trabalho e a família.
O resultado, penso eu, será o aumento gradativo dos conflitos familiares, acarretando o desestímulo na continuidade dessa forma de trabalho e pior ainda, o aparecimento e aumento gradativo nos níveis e índices de depressão.
Em tempos de isolamento social, um estudo recente realizado pelo instituto de Psicologia da UERJ, apontou que os casos de depressão praticamente dobraram após o início da quarentena.
Ouso afirmar, e que me desculpem os que pensam ao contrário, que esse aumento do índice de doentes depressivos tem a sua parcela impactada também pela forte implantação do teletrabalho ou home office. Minha sugestão é que antes de optar pelo tele trabalho ou home office imaginando ser uma fonte libertadora maravilhosa, analise a situação e o seu ambiente caseiro e familiar. Estabeleça antes os limites de um e de outro. Fica a dica.
Boa Reflexão!