Texto de André César

O presidente Jair Bolsonaro novamente colocou em prática seu estilo “morde e assopra”. Ele vetou o projeto de lei que anistiava dívidas tributárias de igrejas, mas, ao mesmo tempo, afirmou que os parlamentares devem derrubar esse veto. A porta está aberta.

Como se sabe, a bancada evangélica representa um dos principais pilares do governo no Congresso Nacional. Eles estão ao lado do presidente desde a campanha eleitoral, em 2018, quando quase emplacaram o então senador Magno Malta na vice-presidência.

Defensores de uma agenda conservadora nos costumes, os evangélicos trabalham com eficácia na defesa de seus interesses. Muitas vezes, eles se aproximam de outros grupos suprapartidários, como os ruralistas, em busca de apoio.

Exemplos desse tipo de ação não faltam. Ainda no governo Dilma, as duas bancadas se juntaram e conseguiram aprovar um Código Florestal bem ao gosto ruralista. Em troca, a pauta evangélica avançou no Congresso naquele momento.

Agora, dado o sinal verde pelo presidente da República, os evangélicos já se mobilizam e, mais ainda, dão como favas contadas a derrubada do veto. Eles contam inclusive com a simpatia do Centrão, o megabloco que recentemente se aliou ao governo.

Indo além, o Planalto deverá encaminhar uma proposta de emenda constitucional concedendo imunidade tributária total para as igrejas. Uma alternativa seria incluir o dispositivo em algum projeto já em tramitação. Não importa o modo, o fato é que o presidente está disposto a ceder ainda mais aos evangélicos.

Bolsonaro pode estar criando uma armadilha para si próprio. Ao abrir mais e mais espaço aos evangélicos, ele acaba se tornando refém do grupo. A curto e médio prazos, porém, o presidente não está preocupado com isso. Para ele, importa manter a popularidade em alta, e os evangélicos colaboram com isso.

Resumo da ópera – o viés populista do presidente segue correndo solto.