Magazine Luíza, racismo reverso e o conto de ninar da branquitude

Negros mercado de trabalho
Os negros recebem em média salário menor se comparado com os trabalhadores brancos/Arquivo/Agência Brasil
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Texto de Josiara Diniz

O conceito de raça, atualmente, é político. Nesta análise não estamos falando do âmbito biológico, mas sim da esfera das subjetividades e da construção sociológica sobre grupos minoritários. Nesse sentido, ao falar de racismo, negritude e branquitude o contexto é socialmente e historicamente costurado.

Na última semana, o programa de trainee lançado pelo Magazine Luíza levantou debates. A empresa anunciou que só aceitará candidatos negros em 2021. Não há ilegalidades na iniciativa (inclusive, Nota Técnica, de 20 de setembro de 2020, do Ministério Público do Trabalho convoca empresas para a execução do Projeto Nacional de inclusão de negros e negras), não há óbices de mercado e nem estatístico (estudo, do Instituto Ethos em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento, mostra que o total de negros nos Conselhos de Administração das Empresas é 4,9%; no Quadro Executivo 4,7%; na Gerência 6,3% contra, respectivamente, 95,1%; 94,2% e 90,1% de profissionais brancos nas mesmas funções citadas).

Se existem argumentos legais, de mercado e sociais para contratar mais negros e negras para as empresas: onde está o problema de uma seleção exclusiva para esse perfil?

Existe um discurso de ninar que a branquitude brasileira criou para se esquivar das responsabilidades na desigualdade racial. Foram 350 anos de escravidão que geraram a falta de acessos fundamentais a população negra (educação, formação, inserção no mercado de trabalho) e os negros são os racistas? Dada a explicação inicial sobre o olhar sociológico do conceito de raça, fica entendido, ou pelo menos deveria ficar que, dada a complexidade e capilarização do fenômeno racial, a sociedade é racialmente assimétrica. Nesse sentido, os conflitos não estão só no campo do indivíduo, mas também no da economia, justiça, cultura e, consequentemente, do acesso aos altos cargos das empresas (os números da pesquisa citada comprovam).

Assim, se as instituições não agirem de forma estrutural e radical (já que o racismo é um sistema estrutural e radical) nunca chegaremos a um nível aceitável de igualdade. Reprodução de racismo não é só uma ação de discriminação, mas também a omissão em se responsabilizar e entender que raça, no Brasil, define classe e lugar.

As mudanças no país não vão ser concretizadas só com notas e posts de repúdio moral contra a violência (quando essa é publicizada). As #’s do “black lives matter” e do “vidas negras importam”, apesar de serem simbólicas, não dão emprego para ninguém e nem é impeditivo para o genocídio da juventude negra.

Se você não entendeu o processo seletivo do Magazine Luiza, você ainda não entendeu muita coisa sobre o racismo no Brasil.

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Estudo Citado:

Instituto Ethos: Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 maiores empresas do Brasil e suas ações afirmativas. (2016)

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