Texto de Pedro Rafael Vilela
Na capital do país, as mulheres andam mais de ônibus e a pé para irem ao trabalho do que os homens. O uso do transporte público coletivo pela população negra também é muito superior ao da população não-negra. Apesar da fama de ser uma cidade construída para carros, o maior ou menor uso de automóvel particular no Distrito Federal (DF) está diretamente relacionado ao tamanho da renda familiar, à região onde se vive, ao gênero e à cor de pele.
Essas informações constam no estudo “Como anda Brasília“, da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), a partir dos dados da última Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílio (PDAD), que retrata os perfis do pedestre e de quem utiliza automóvel próprio ou ônibus para deslocamento. De acordo com a Codeplan, os dados analisados pela pesquisa devem subsidiar a elaboração de políticas públicas voltadas para a mobilidade, considerada um dos principais desafios de gestão no DF.
Segundo a pesquisa, os modos mais utilizados pelas mulheres para irem ao trabalho são ônibus (42,94%), automóvel (41,25%) e a pé (17,68%). No caso dos homens, o uso de automóvel para o deslocamento ao trabalho (52,11%) aparece em primeiro lugar, seguido do ônibus (34,11%) e a pé (11,88%).
A posse de um automóvel no Distrito Federal também traz um forte marcador de desigualdade na renda. Cerca de 40% da população que vive nas áreas mais ricas da cidade, como Plano Piloto, Lago Sul e Lago Norte, possuem pelo menos dois ou três carros na garagem. Nesses bairros, cuja renda domiciliar média é de R$ 15.622, apenas 10,5% declaram não possuir nenhum carro. Já entre a população mais pobre da cidade, moradora de bairros como Itapoã, Estrutural, Paranoá e Recanto das Emas, quase a metade (46,7%) não possui um automóvel sequer em casa.
O levantamento da Codeplan também mostra que o ônibus é o principal modal de transporte para a população negra que vive no DF, utilizado por 43,8% dessa grupo, seguido do automóvel, utilizado por 39,6%. O cenário já se inverte quando comparado com a população não-negra, em que o automóvel é o principal meio de transporte (57,5%) e, em segundo lugar, o ônibus (30,4%).
(Pedro Rafael Vilela trabalha na EBC)