Texto de Noemí Araújo
Não sei se pra você é mais fácil entender cenários estatísticos com números ou percentual, mas fato é que a representatividade feminina está ainda muito aquém do ideal e isso não é nem um pouco difícil de compreender. Dos 27 governadores, apenas uma mulher (3%); dos 513 deputados federais, 77 são mulheres (15%); dos 82 senadores, só temos 12 mulheres (14,6%); são 649 (11,6%) mulheres prefeitas, entre os 5.570; e, 7.803 (13,5%) vereadoras mulheres, do total de 57.814. Se isso não te incomoda, vou deixar você reler o parágrafo quantas vezes for necessário.
Enquanto população brasileira e eleitorado, as mulheres representam cerca de 52%, ou seja, a maioria. No entanto, como bem aponta Lilia Schwarcz: são “maiorias minorizadas”. E, é por isso que fruto de uma parceria entre os projetos: Elas no Poder, Engajamundo Vote Nelas e Vamos Juntas e dezenas de organizações, nesta segunda-feira (5) aconteceu o lançamento desta super campanha, de caráter nacional e suprapartidário.
Uma iniciativa que surge com o objetivo de conscientizar e engajar os cidadãos, a sociedade civil organizada e os demais atores políticos interessados para demonstrar a necessidade da diversidade de posicionamentos e formas de pensar entre as candidaturas femininas. Afinal, a proposta é ‘furar nossa bolha’, e conseguir que mulheres de todas as raças e espectros políticos, religião, com ou sem deficiência, tenham suas campanhas potencializadas e, assim, aumentemos a representação feminina nos espaços políticos.
Já iniciadas as campanhas eleitorais municipais, ao todo, foram 551.804 pedidos de registros de candidaturas, maior do que em 2016; o que é bastante interessante tendo em vista o contexto de pandemia, isolamento social, aumento do desemprego que poderiam ser fatores impeditivos para os registros. Entre 33 partidos que apresentaram candidatos, o MDB lidera o ranking seguido pelo PSD, PP, DEM e PSDB. No que se refere à média de idade dos candidatos, a maior parte está entre 40 a 59 anos (45,53%) o que surpreendeu aqueles que esperavam maior número de candidaturas jovens.
E, quanto à cor/raça autodeclarada, os dados apontam a primeira vez em que o número de candidatos pretos e pardos (49,94%) ultrapassa o número de brancos (47,95%). No entanto, isso se deve em parte à mudança de auto declaração do(a) candidato(a) de 2016 para 2020 e não ao aumento quantitativo, de fato.
Mas o foco, em especial, refere-se ao registro de candidaturas femininas. Em 2016 elas representaram 31,9% dos registros; este ano, o percentual chegou a 33,1%; um aumento de mais de 20 mil mulheres em disputa por um cargo no poder legislativo e executivo municipal. Mas que ainda insiste em permanecer na margem de limite de 30% de gênero representado. No entanto, quanto mais candidaturas femininas, maior a possibilidade de sucesso eleitoral. É proporcional.
O importante é garantir que essas mulheres recebam todo o apoio e suporte para fazerem campanhas potentes e com reais chances de vitória; que não sejam ludibriadas a ponto de se tornarem candidatas laranjas e que não desistam no meio do caminho por conta da violência política de gênero (tema para um próximo artigo), pela falta de recursos financeiros ou outras limitações.
E isso não é só sobre as mulheres, negras ou partidos de esquerda, como muitos pensam. Isso é sobre você, seja quem for. É sobre a necessidade de educação política da população; sobre conscientização, identificação e participação. Diversos estudos mostram que quanto mais mulheres nos espaços políticos e espaços de decisão, melhores serão as políticas públicas elaboradas e implementadas.
E, é por isso que essa campanha é feita para você. Pois você é responsável pelas escolhas que toma e pelas que deixa de tomar. Essa chamada é para você: #Vem, vote em mulheres, participe e atue ativamente, doe para as campanhas e se engaje mesmo de longe, por meio das redes sociais, ou convencendo seus familiares de outros estados, seus primos que vão votar pela primeira vez, de que existem mulheres, sim, na disputa e que são tão boas ou melhores que os mesmos quadros políticos de sempre, na sua total diversidade e pluralidade.