Texto de Marcelo Rech
Na noite de terça-feira, 29, o Brasil entrou definitivamente nas eleições norte-americanas, introduzido pelo candidato democrata, o ex-vice-presidente Joe Biden. Segundo ele, ao ser eleito “começaria imediatamente a organizar o hemisfério e o mundo para prover US$ 20 bilhões para a Amazônia, para o Brasil não queimar mais a Amazônia”. Em uma única frase, Biden expressa toda a essência da visão política geral, dos Estados Unidos, em relação ao resto do mundo.
Em primeiro lugar, entende que é necessário organizar o hemisfério. É fato que a região necessita de muitas transformações e uma delas diz respeito, diretamente, às políticas norte-americanas de combate às drogas. A demanda cada vez mais crescente de consumidores, alimenta uma cadeia de produção que gera empregos e renda para vários dos países, alicerçados na criminalidade organizada.
Se “organizar” o hemisfério significa fortalecer a cooperação, excelente. No entanto, a premissa mais realista nos leva a acreditar que Washington, sob Joe Biden, pretende impor à região o que fazer. Historicamente, tem sido assim. Enquanto Donald Trump dá as costas para o seu entorno regional, Joe Biden expressa arrogância.
Segundo, “organizar o mundo” traduz-se numa pretensão fortemente questionável. Quase todas as crises nos cinco continentes, direta ou indiretamente, guardam relação com as políticas definidas entre a Casa Branca, o Departamento de Estado e o Pentágono. Talvez, fosse mais útil repensar a forma como os Estados Unidos se colocam diante dos desafios internacionais. Não há coerência entre a retórica e a prática.
Em terceiro lugar, ao revelar que proveria “US$ 20 bilhões para a Amazônia, para o Brasil não queimar mais a Amazônia”, Joe Biden escancara o cinismo. O candidato democrata, ao pôr preço na Amazônia, mostra o desprezo norte-americano pela soberania dos demais países. Além disso, faz coro político-eleitoreiro ao usar a suposta defesa da Amazônia, para mostrar comprometimento com o bem estar mundial.
Na tentativa de potencializar a disputa com Trump, Joe Biden eleva o tom ao afirmar que “a comunidade internacional diria ao Brasil: aqui estão US$ 20 bilhões, pare de destruir a floresta. E se não parar, vai enfrentar consequências econômicas significativas“. O democrata, sem qualquer pudor, ameaça deliberadamente o Brasil como se a proteção do meio ambiente, dos índios e das populações da floresta, realmente importasse.
O debate presidencial da noite de 29 de setembro, revelou a verdadeira cara da política atual norte-americana. Dois candidatos pobres, incapazes de transmitir segurança e que revelam um futuro bastante instável para o mundo em suas relações com os Estados Unidos. Os país está à mercê de dois extremos quando o mundo cobra diálogo, entendimento, cooperação. Mais uma vez, os eleitores norte-americanos terão de avaliar quem seria o menos pior e não o melhor.
Por outro lado, ganhe Trump ou ganhe Biden, o Brasil não será isolado. A sétima economia mundial, maior detentor de água doce do planeta, um dos mais biodiversos com algumas das reservas minerais mais exclusivas, além de um mercado consumidor de 210 milhões de habitantes, o Brasil será sempre prioridade para qualquer país, independentemente de quem o governe.
Um exemplo concreto que confirma essa afirmação, está na postura dos Estados Unidos em relação ao comunismo. É fácil isolar um país como Cuba, uma pequena ilha no Caribe com pouco mais de 11 milhões de habitantes. Outra, completamente diferente, é isolar uma China comunista com 1,393 bilhão.
O fato é que, superadas as eleições, os Estados Unidos continuarão atuando como sempre, olhando de cima para baixo para todos e mirando os seus interesses. E a Amazônia interessa, principalmente por tudo que guarda o seu sobsolo.