A Organização Mundial da Saúde (OMS) não quer, os governos não querem, as empresas e os cidadãos idem. O confinamento total é uma medida extrema que ninguém encara como viável. Só que o recorde de novos casos – mais de 700 mil na semana passada – obriga a uma leva de novas medidas restritivas e confinamentos parciais em vários países da Europa.
Os países europeus estão à procura de um compromisso entre as portas abertas na atividade econômica e das escolas e o ressurgimento de casos e internamentos hospitalares, contando com a opinião da OMS de que “os confinamentos têm apenas uma consequência que nunca deve ser subestimada: tornar os pobres muito mais pobres”.
Ravi Gupta, microbiologista da Universidade de Cambridge, reconhece que confinamentos totais podem ser eficazes, mas “é claro que as pessoas não podem suportar restrições a longo prazo fora dos regimes autoritários”, pelo que esse cenário “está fora da agenda política” na Europa, em parte porque o “fator medo” em torno do novo coronavírus não é o mesmo de há sete meses, comentou ao The Washington Post.
Em Londres, perante a quadruplicação de casos de coronavírus nas últimas três semanas e agora com mais doentes hospitalizados do que nos meses críticos de março a maio, o Governo vai lançar um novo pacote de restrições com um sistema de alerta de três níveis.
A região de Île-de-France, que inclui Paris, tem a situação mais preocupante para as autoridades: a taxa de incidência na faixa etária 20-30 situa-se nos 800. Além disso a taxa de testes positivos está próxima dos 17% e a ocupação dos cuidados intensivos com doentes de Covid está nos 42%. Presidente e governo deverão insistir numa mensagem de responsabilização individual, avança a AFP.
Na República Checa soaram os alarmes: o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças informou na segunda-feira que o país registou o crescimento mais rápido em duas semanas por cem mil habitantes na União Europeia.
Na Espanha, o primeiro-ministro socialista Pedro Sánchez invocou o estado de emergência na sexta-feira para impedir a entrada e saída de Madrid, no mais recente capítulo do desentendimento com o Governo autónomo, que tinha aplicado um controverso confinamento nos bairros e municípios mais pobres.
A Alemanha viu Munique juntar-se a Berlim, Frankfurt, Colônia e Estugarda nas cidades com novas restrições. A partir de quarta-feira, os bares e restaurantes daquela cidade da Baviera serão obrigados a deixar de servir álcool depois das 22.00. O uso de máscara será obrigatório também em locais públicos exteriores com elevada ocupação, e a reunião de grupos, dentro ou fora de portas, está limitada a dez pessoas.
Na Bélgica, os casos diagnosticados na semana passada foram 89% superiores aos da semana anterior. Um porta-voz da resposta nacional ao novo coronavírus, Yves van Laethem, avisou na segunda-feira que se a tendência atual não for travada, o número de pessoas nas unidades de cuidados intensivos no final de outubro poderá igualar os números de março e abril. “Todos os indicadores continuam a aumentar de forma alarmante”, disse Van Laethem aos jornalistas.
Em Itália as máscaras passaram a ser usadas tanto no exterior como no interior. Na segunda-feira, o primeiro-ministro Giuseppe Conte excluiu outro confinamento a nível nacional, mas disse que os confinamentos localizados poderiam ser utilizados, se necessário. O Governo está agora a considerar novas medidas que podem incluir uma proibição de festas privadas e a limitação do número de convidados em casamentos e funerais, segundo informou o DN de Portugal.