Texto de Márcio Coimbra
Estamos diante de uma eleição plebiscitária. Quem acha que estamos diante de uma disputa entre Biden e Trump está redondamente enganado. Estamos diante de uma eleição entre Trump e Anti-Trump. O grande ator deste ciclo eleitoral é Donald Trump e seu modo de fazer política.
Trump venceu em 2016 a bordo da antipolítica, mesmo movimento que levou Bolsonaro ao poder em 2018. Quatro anos depois, sem o mesmo encanto que o levou até a Casa Branca, tenta continuar no jogo. A antipolítica perde fôlego na medida em que o eleitor foi confrontado com a pandemia e alguns líderes, apesar de possuir apelo popular, acabaram falhando de forma grave no combate ao coronavírus.
Eis o principal problema de Trump. Em condições normais de temperatura e pressão, venceria esta eleição com enorme facilidade. Contudo, no meio do caminho surgiu uma pandemia e aquele que sonhava com uma vitória fácil, pode até ser atropelado por um candidato sem qualquer apelo eleitoral. Trump optou pelo negacionismo e hoje o país enfrenta a dura realidade de ter que lidar com 230 mil mortos.
Há quem diga que Trump ganhou a eleição de 2016 no susto. Teria concorrido somente para alavancar sua imagem e seus negócios. Mike Pence, ex-governador de Indiana e hoje Vice-Presidente, tinha planos semelhantes. Teria aceitado ser companheiro de chapa porque sabia que Trump perderia, mas seria possível tornar-se um nome nacional como candidato a vice, impulsionando seu nome para concorrer a Presidência em 2020.
Trump não é popular dentro do Partido Republicano, algo que tem causado enormes problemas em sua tentativa de reeleição. Muitos líderes do partido acreditam que seria melhor uma derrota para os democratas este ano, algo que faria o partido passar por uma reorganização interna, retomando o controle dos processos e preparando desde já a campanha de 2024. No Senado e Câmara, este ciclo eleitoral será um desastre para os republicanos.
De qualquer forma, o coronavírus alterou a dinâmica de votação. Até o dia da eleição terão sido mais de 90 milhões de votos antecipados. Esta modalidade de votação sempre foi maior entre os democratas, o que significa que Trump terá que contar com os votos presenciais dos republicanos no dia da eleição. Ele precisa mobilizar a base e fazer com que seus apoiares se dirijam às urnas, afinal, o voto é facultativo.
O resultado pode demorar. Se a diferença for apertada, é provável que tenhamos uma disputa de recontagens, ações judiciais e questionamentos de cédulas enviadas pelo correio em alguns estados. É possível que seja uma batalha de semanas antes de conhecer o vencedor. A única chance de sabermos o resultado no dia da eleição, será se houver uma margem alta, mas tudo indica que a disputa será acirrada.
Estamos diante de uma eleição diferente. Um verdadeiro plebiscito sobre a Presidência de Donald Trump. Se Biden vencer, a derrota de Trump será maior do que o triunfo do democrata. Ganhando ou perdendo, o republicano é o nome mais importante destas eleições.
(Márcio Coimbra é coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília)