Texto de Marcelo Rech
Nas eleições de 2016, nos Estados Unidos, os meios de comunicação erraram feio. Dois anos depois, em 2018, no Brasil, a tendência foi mantida e praticamente nada do “apurado” se confirmou. Nas eleições norte-americanas deste ano, analistas em todo mundo, novamente fracassaram em suas previsões. Como sempre, os formadores de opinião, esquivando-se de suas responsabilidades, culpam aos institutos de pesquisa.
No entanto, não é bem assim. Lá como cá, o que temos visto nos últimos anos são jornalistas que confundem (?) a missão de informar com o ativismo militante. O que publicam guardam cada vez menos relação com a realidade e situam-se muito mais no campo daquilo que desejam e de seus interesses políticos e ideológicos.
Em relação às eleições norte-americanas, vendeu-se a ilusão de uma onda azul em torno do candidato democrata Joe Biden, sugerindo-se que o efeito Trump assentava-se apenas em um contexto de mentiras deslavadas e extremismo de direita. O desempenho de Donald Trump, no entanto, mostra que, a despeito do que a imprensa desejava, grande parte da sociedade norte-americana se identifica com a sua visão de mundo.
Além disso, é importante observar que a maioria dos analistas políticos residem nas grandes cidades e trabalham dentro de uma bolha que não revela os verdadeiros anseios da população. Não há presença nos rincões mais isolados e pouco importa o que pensam aqueles que ali vivem. A elitização das análises, sustentadas em pesquisas igualmente centradas nas regiões mais desenvolvidas, acabam revelando dados que não guardam relação com os fatos. Gostem ou não de Trump, simpatizem ou não com ele, o fato é que ele consolidou a presença conservadora e seus valores, no debate político, antes dominado pelas correntes progressistas. Os resultados das eleições nos Estados Unidos revelam a necessidade urgente de se repensar o papel dos meios de comunicação e dos institutos de pesquisa. Mantida a tendência atual, o descrédito seguirá crescendo.
A exemplo dos partidos e movimentos mais à esquerda, os meios de comunicação também precisam fazer o mea culpa. A sociedade, lá como cá, dispõe, hoje, de uma infinidade de ferramentas que cada vez mais suplantam os meios de comunicação convencionais. As mídias sociais vieram para ficar e de nada adianta espernear. Com um telefone inteligente, é possível gravar áudios e vídeos que rapidamente viralizam. A informação transita de maneira muito mais democrática e veloz. E não adianta tentarem impor uma pauta.
Por si só, esta realidade deveria obrigar os meios de comunicação a repensarem o seu papel e missão de informar e formar opinião. Os meios de comunicação são essenciais no fortalecimento da democracia e, justamente por isso, não podem colocar seus interesses acima dos interesses maiores de uma sociedade.
Exércitos regulares e organizações terroristas, por exemplo, já se davam conta da importância dos meios de comunicação como elemento fundamental para se ganhar corações e mentes. No entanto, o que se percebe são os meios de comunicação e os profissionais da área, mais interessados em fazer-se de vítimas de um sistema que seria autoritário.
Confundir críticas com ataques é típico daqueles que estão focados na destruição de reputações. Há regimes que sim, atacam de forma permanente o trabalho da imprensa, mas como se tratam de governos considerados progressistas, suas ações são minimizadas. Portanto, não é o que se faz, mas quem faz.
Donald Trump, de fato, gera turbulâncias ao sistema, muito mais por conta da imprevisibiliadde de suas ações do que por sua retórica. No Brasil, percebe-se que a retórica é considerada pelo estamento como uma ameaça muito mais concreta ao funcionamento das instituições, que a corrupção, por exemplo, que subverte valores, posições, compra votos, superfatura obras e desvia recursos de áreas como saúde e educação. Os meios de comunicação devem, em relação à confiança da sociedae, optar entre a missão de informar e o ativismo militante.