Estratégia de Boulos

Guilherme Boulos São Paulo PSol
Guilherme Boulos, do PSol, vai disputar o segundo turno das eleições em São Paulo/Divulgação
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Texto de Marcio Coimbra

Enganam-se aqueles que acreditam que Guilherme Boulos tenta ser Prefeito de São Paulo. Sua estratégia está muito além disso. Mira uma capital, mas outra, localizada no Centro-Oeste. Boulos mira em Brasília e mais do que isso, na cadeira de Jair Bolsonaro. Para compreender este movimento precisamos voltar no tempo e entender que ambos são produtos de uma mesma dinâmica.

No movimento pendular da política, quanto mais se estica a corda, com mais intensidade ela se desloca em sentido contrário. O fenômeno Bolsonaro é resultado desta prática. No auge do petismo, Lula e depois Dilma, considerando-se imbatíveis, mantinham o discurso afiado contra os opositores. O foco era um certo revanchismo contra os militares, mas especialmente a demonização da direita, dos valores conservadores e de partidos como o Democratas, “que deveria ser extirpado da política brasileira”, dizia Lula.

O resultado é conhecido. A sede hegemônica petista pariu a direita brasileira. Meio desfigurada, desarrumada e até tosca em certo sentido. Liberais, conservadores, lavajatistas e antipetistas de toda ordem se juntaram em uma frente liderada por um deputado do baixo clero que soube assumir o figurino de outsider e chegou ao Planalto embalado nesta onda.

No poder, Bolsonaro repete o erro do enredo petista. De maneira desforme e desorganizada, estica a corda do pêndulo que o levou ao poder, agora em sentido contrário. Governa alicerçado na polarização, tornando-se refém do embate constante e discurso hegemônico da direita que representa. Ao acirrar os ânimos e incitar o confronto, demonizando adversários, recai no mesmo erro do petismo, que se achava invencível.

Assim como Lula preparou o terreno para o surgimento de Bolsonaro, este faz o mesmo, estendendo um tapete vermelho para o opositor que está diametralmente oposto ao seu campo político. Este nome pode ser Guilherme Boulos. A polarização gera um efeito inverso que acaba por abrir as portas do inferno para o governo.

Poucos acreditavam em 2015 ou 2016 que Bolsonaro seria eleito presidente. Repeti à exaustão que sua vitória se desenhava. Hoje faço a mesma provocação: Quem acredita ser impensável Boulos chegar ao Planalto, precisa entender que seu principal cabo eleitoral é Bolsonaro e sua forma torpe de lidar com a política.

Diante do desgaste do PT, PC do B e especialmente Psol passaram a ocupar a liderança do voto de esquerda. Boulos sempre foi próximo de Lula e nada agradaria mais a ele do que a companhia do ex-presidente em sua chapa. Boulos teria em Lula um vice experiente, que dialoga com o mercado e a classe política. A idade e rodagem de Lula o fariam o nome ideal para encarar o desafio.

Para isso se concretizar, Boulos precisava de projeção nacional, exatamente o que esta eleição lhe entregou. Não pode correr o risco de ganhar, porque no fundo já ganhou. A chegada ao segundo turno é uma vitória que projeta seu nome e abre o caminho diante da campanha que realmente importa: a corrida pela cadeira de Bolsonaro daqui dois anos.

O poder cega e turva a mente. As armadilhas e erros da soberba podem fazer com que o movimento pendular da política se mova com força e intensidade. Depois de abater o petismo, a próxima vítima pode ser o bolsonarismo.

(Márcio Coimbra é cientista político e  coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília)

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