Texto de André César
Faltando poucos dias para o final do ano, é absolutamente plausível a afirmação de que muito há a ser feito para que 2021 seja minimamente melhor. 2020 não deixará saudades – ao contrário, muito trabalho há de ser feito.
O primeiro grande desafio do ano prestes a iniciar diz respeito, é claro, à pandemia. Em meio a fortes sinais de estarmos em plena “segunda onda” da Covid, a vacinação da população é uma medida emergencial. Para que ela se efetive, a disputa entre o Planalto e os governos estaduais precisa ser superada. É claro que não se verá uma união de forças entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o governador paulista João Dória (PSDB), mas um mínimo de bom senso deverá vir à tona nas próximas semanas. O Brasil agradece.
Ainda sobre a pandemia, o fim do auxílio emergencial paira sobre a cabeça de milhões de brasileiros. Recente pesquisa do DataFolha mostra que esse dinheiro representa a única fonte de renda para 36% dos beneficiários, um contingente expressivo. A questão, é claro, tira o sono do presidente da República, que viu sua popularidade aumentar significativamente a partir da implementação do auxílio. Sem esse dinheiro e com a economia claudicando, as pretensões eleitorais de Bolsonaro sofrem um sério abalo.
Por falar em eleições, a disputa pelo comando das duas Casas do Congresso Nacional representa o ponto de largada da sucessão presidencial. Esse fato explica, em larga medida, o duro embate entre os aliados do presidente, representados na Câmara pelo deputado Arthur Lira (PP/AL), e o grupo de Rodrigo Maia (DEM-RJ), que vem angariando importantes apoios, inclusive à esquerda. No Senado a indefinição também é grande, com muitos nomes apresentados mas nenhum favorito.
A disputa no Congresso também terá impacto direto sobre a agenda legislativa. As reformas, em especial a tributária e a administrativa, seguem no aguardo de uma discussão efetiva. Espera-se que o Planalto se empenhe minimamente para a aprovação das matérias – o que não ocorreu até agora. Também do ministro da Economia, Paulo Guedes, ainda espera-se que ele justifique a alcunha de “Posto Ipiranga”.
Sobre o ministério, aguarda-se para breve uma dança das cadeiras. As mudanças no primeiro escalão são fundamentais para a realocação de forças políticas visando as eleições de 2022. O jogo se dá às claras.
Por fim, uma incógnita diz respeito à atuação do governo brasileiro no âmbito da política externa. A posse do democrata Joe Biden poderá obrigar o Planalto a revisar suas diretrizes em áreas estratégicas, em especial na questão ambiental. A condição de “pária” incomoda profundamente e, mais ainda, afeta negativamente o país nas negociações internacionais.
2020 termina sem deixar saudades. Que as (duras) experiências acumuladas ao longo do ano sirvam de lição e inspiração para os dias vindouros.
Feliz 2021!