No dia primeiro de janeiro deste novo ano, muita gente se espantou ao ver a manchete do G1 indicando que uma pauta tradicional, a posse dos novos eleitos no Brasil, tinha sido executada usando inteligência artificial, ou seja, matérias redigidas não por jornalistas humanos e sim por máquinas, via software.
O tema é antigo. Morozov [Evgeny Morozov é um pesquisador e escritor bielorrusso] escreveu sobre ele em 2012. Falo disso desde 2013. Fiz um pequeno código para testar. Mas as pessoas sempre achavam que nunca chegaria aqui.
Esse é um processo que já está acontecendo em todo mundo. E é irreversível. O que os robôs ainda não fazem é escrever um texto mais complexo, com a beleza dos grandes cronistas. Já há iniciativas de aprendizado de máquina sendo treinadas a partir de milhares de textos anteriores para que, a partir dos padrões identificados, melhorias nesta capacidade de redação aconteçam.
Mas as reportagens investigativas e as grandes histórias humanas ainda são nossas. Robôs usam bases de dados anteriores para escrever, não entrevistam pessoas e a língua portuguesa sempre foi um desafio para softwares com outras finalidades.
Ainda temos algum tempo. O que é novo ou totalmente inédito será o último reduto do jornalismo profissional, o que, na realidade, nunca mudou.
Por isso digo aos meus alunos que o problema não é o robô escrever, mas o jornalista se robotizar achando que copiar e colar release é fazer jornalismo.
Para os interessados, segue o link de um dos meu textos na BJR, Brazilian Journalism Research, escrito em 2015 e publicado no ano seguinte, que ainda considero válido para analisar a situação atual.
Márcio Carneiro é professor de Jornalismo na Universidade Federal do Maranhão)
Da Redação – O jornal americano The Washington Post começou, há um ano, a veicular notícias escritas pelo robô Heliograf. Neste período, a ferramenta de inteligência artificial escreveu mais de 850 artigos.