Sem recuperação em V e com risco de retração econômica no primeiro trimestre

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Há setores que a economia melhorou bastante, mas de uma maneira geral patina/Arquivo
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Texto de Vivaldo de Sousa

O atraso na campanha de vacinação já levou analistas econômicos a preverem que o primeiro trimestre deste ano poderá registrar uma retração da economia na comparação com igual período do ano passado. Os dados preliminares que o governo dispõe indicam que a chamada retomada em V, citada no ano passado pelo ministro Paulo Guedes (Economia), não acontecerá.

Por dever de ofício, os integrantes da equipe econômica precisam ser otimistas, uma vez que as avaliações oficiais da economia têm impacto nas expectativas dos agentes econômicos. Mas o atraso na campanha de vacinação, que aqui no Brasil está relacionado principalmente à problemas de gestão do Ministério da Saúde, é um dos principais motivos dessa piora na expectativa econômica.

“A volta segura ao trabalho é importante e a vacinação em massa é decisiva, é um fator crítico de sucesso para o bom desempenho da economia logo à frente”, afirmou Guedes nesta segunda-feira (25).  “Espero que todos se cuidem, saúde e vacinação em massa são críticos, são fatores críticos de desempenho econômico também. Então, para que a economia possa voar novamente, nós precisamos acelerar essa vacinação em massa”, disse ele.

Esse discurso de Guedes, que ainda fala em crescimento econômico de 3% em 2021, contrasta com o tom adotado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e grande parte do seu governo ao longo da pandemia. Bolsonaro, que chegou a desqualificar a primeira vacina aplicada no Brasil (a Coronavac do Instituto Butantan), falou diversas vezes em volta à normalidade mesmo com o aumento no número de casos e de morte em função da Covid-19.

Num contexto de recrudescimento da pandemia, que pode ser pior neste ano do que em 2020, também contribui para essa piora nas expectativas econômicas o fim do pagamento do auxílio emergencial, que injetou o equivalente a 4% do Produto Interno Bruto (PIB) na atividade econômica, e de estímulos dados ao setor produtivo. Nos dois casos há pressões políticas para “ressuscitar” o auxílio emergencial e novas medidas de estímulo às empresas.

Com a eleição dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, marcadas para a próxima segunda-feira (1º de fevereiro), teremos um quadro mais definido sobre o apoio ao governo Bolsonaro no Congresso Nacional _ainda que o Centrão, hoje fiador do governo no Legislativo, possa mudar de lado em função da piora do quadro sanitário, do aumento do desemprego e do maior apoio ao impeachment do presidente da República.

Sem Carnaval, suspenso em função da pandemia, a realidade dos problemas brasileiros se impôs mais cedo neste ano. A perda de vidas provocadas pela falta de oxigênio em Manaus (AM) e a expectativa de epidemiologistas de que o número de mortes ainda deve aumentar antes da vacinação em massa, aliado a um cenário de perda de renda e sem perspectivas de emprego imediato, terão impacto no ambiente político dos próximos dois anos.

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