Saúde em guerra

Vacinação contra a Covid-19 Misto Brasília
Diante do avanço do vírus, governo decidiu baixar a idade do público imunizado/Arquivo/Observador
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Texto de André César

O desentendimento entre o Planalto e os governos estaduais e municipais em torno do combate à pandemia atingiu seu ponto máximo. Cansados do negacionismo e do pouco caso do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), governadores e prefeitos buscam alternativas para enfrentar a Covid-19. Uma guerra está em curso.

Os números não mentem. É fato que a quantidade de mortos aumentou de maneira significativa nas últimas semanas – hoje o país ultrapassará a cifra de 256 mil óbitos – e não há perspectiva alguma de melhora no quadro geral. Calamidade é a palavra que define a saúde no Brasil nesse início de 2021.

O sistema de saúde do país está à beira do colapso, com pelo menos 18 estados com mais de 80% dos leitos de UTI destinados ao tratamento da Covid-19 ocupados. Assim, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) defende a adoção imediata de lockdown em diversas regiões, além de toque de recolher nacional, que iria das 20 às 6 horas em todo o Brasil. Medidas mais que necessárias, ainda que tardias.

Em outra frente, centenas de chefes de Executivo municipais ligados à Frente Nacional dos Prefeitos (FNP) montaram um consórcio com o objetivo de comprar vacinas contra a Covid-19. O grupo é suprapartidário. Os municípios estão cansados da queda de braço entre Bolsonaro e os laboratórios.

Bolsonaro, por seu turno, mantém seu discurso de confronto. Na verdade, sua fala agrada ao seu apoiador mais fiel, que representa algo em torno de 25% do eleitorado. Em seu último ato, o titular do Planalto divulgou em redes sociais que a União repassou bilhões de reais aos estados para reduzir os efeitos da pandemia. O bolsonarista aplaude e acredita piamente, mas é evidente que as informações palacianas são distorcidas.

Em termos puramente políticos, a estratégia presidencial faz sentido. Para seu público, ele reforça a imagem de estar lutando “contra o sistema” – Bolsonaro encarna o anti-establishment, mesmo sendo ele próprio um típico integrante da elite política.

O confronto alimenta o presidente e seus apoiadores. Quanto mais ruído, melhor. Nesse sentido, é pouco provável que o Planalto recue de suas posições e atenda às solicitações dos governadores e prefeitos. Pior para a população, que continua a chorar seus mortos.

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