Texto de André César
Seria cômico não fosse trágico. Em pleno pico da pandemia, o ministério da Saúde vive um vácuo em seu comando. O demissionário, general-ministro Eduardo Pazuello, ainda não cedeu oficialmente o posto a seu sucessor, o cardiologista Marcelo Queiroga.
A situação, é claro, gera consequências graves e imediatas para o país, que está perto de atingir a sinistra cifra de 300 mil óbitos decorrentes da Covid-19. Pior, a vacinação segue a passos de cágado, com incertezas quanto ao fornecimento de doses no futuro próximo, e o chamado “kit intubação”, essencial para o enfrentamento da doença, começa a faltar nos hospitais.
O impasse na transição de comando na Saúde tem razões políticas. Ao Planalto interessa manter o foro privilegiado para Pazuello, que está sendo investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por conta de sua atuação no combate à pandemia. Há o risco de prisão do quase ex-ministro e o governo Bolsonaro teme as consequências desse fato.
Para o general, estuda-se sua transferência para o ministério do Turismo. Outra hipótese seria a criação de uma nova pasta, da Amazônia, para acomodar o hoje incômodo aliado. Tal ação, porém, é rechaçada pelos próprios militares, já irritados com a atuação de Pazuello na Saúde. O mais provável é que ele assuma o Programa de Parcerias e Investimentos (PPI), hoje integrante do ministério da Economia. A ideia é transferir a PPI para a Secretaria-Geral da Presidência.
Caso a mudança ocorra, o grande derrotado do processo será o titular da Economia, Paulo Guedes, que segue acumulando reveses.
Queiroga, por sua vez, ainda não se desvinculou formalmente de suas atividades privadas, o que deveria ter providenciado tão logo seu nome foi anunciado, há mais de uma semana. Para piorar, ele foi réu em ação penal por crime contra o patrimônio público. O caso é no mínimo constrangedor.
O imbróglio na Saúde representa a síntese perfeita da gestão Bolsonaro. Improviso e falta de coordenação interna são uma realidade concreta. O país paga a conta.
Procura-se um ministro da Saúde – mas será que o anunciado Marcelo Queiroga chegará a assumir o cargo? Façam suas apostas.