Para internacionalista ouvido pela Sputnik, por mais que o agronegócio brasileiro tente, através da ministra Tereza Cristina, minimizar os atritos do governo com a China para não afetar as exportações, isso pode mudar no longo prazo, com o investimento de Pequim em novos fornecedores.
Na última quinta-feira (20), durante o Seminário China-Brasil, que foi realizado através de videoconferência, a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, afirmou que o Brasil e a nação asiática compartilham de uma longa parceria no agronegócio, cujo desafio atual é dar qualidade de vida às pessoas que vivem no campo, dentro do contexto de uma agricultura sustentável.
Além disso, a ministra lembrou que o Brasil é responsável pela produção de alimentos para mais de um bilhão de pessoas no mundo, em um total de 180 mercados, e ressaltou que a China é protagonista na inserção brasileira nas cadeias agroalimentares globais.
O especialista em Relações Internacionais, Vinícius Guilherme Rodrigues Vieira, professor da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), assinala que, apesar de aparentar uma contradição com o que dizem outras vozes do governo de Jair Bolsonaro, e o próprio presidente, o discurso de Tereza Cristina reflete o fato de que o Ministério da Agricultura é, historicamente, ocupado por representantes do setor, para o qual a China tem uma importância colossal.
“Os titulares da pasta são prepostos do setor no governo e o próprio Estado brasileiro tem muito dessa característica, independentemente do governo de plantão. Então, não surpreende que ela faça esse tipo de declaração, porque, de fato, sem a China, boa parte do nosso agronegócio ficaria a ver navios […] então vejo como algo natural”, opina.
Além disso, Rodrigues Vieira ressalta que a ministra, ao longo de toda a sua gestão no governo Bolsonaro, conseguiu manter-se afastada das polêmicas que, de tempos em tempos, vêm à tona por causa de declarações negativas e insinuações de integrantes do governo em relação à China.
Contudo, o professor assinala que, mesmo com todo o esforço da ministra e do setor de exportação agropecuária para minimizar o impacto de declarações de certos membros do governo, é contraproducente no longo prazo “apoiar um governo que tem como principal alvo internacional, surpreendentemente e justamente, o nosso principal comprador, sem o qual a nossa economia entraria em dificuldades ainda piores”.