Tesla, sustentabilidade e tecnologia na nova economia

Tesla carro elétrico montadora Misto Brasília
A Tesla é uma empresa norte-americana especializada em carros elétricos/Arquivo/StartSe
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A história da montadora, sua tecnologia de carro elétrico, a concorrência e a redução de lucro

Texto de Charles Machado

O valor estabelecido em bolsa pela empresa de Tesla, pode dar a dimensão que o universo financeiro está dando no momento a sustentabilidade. Olhar carros elétricos como o futuro, faz da Tesla a montadora de maior valor de mercado ainda que fabrique menos de 5% dos carros que fabrica a segunda da lista.

O fabricante de carros elétricos já vale um trilhão de dólares no mercado de ações, graças aos fortes aumentos registrados, sendo que apenas nesse ano suas ações já subiram 45%.

Desta forma, a empresa fundada por Elon Musk se junta ao seleto clube de empresas listadas americanas cujo valor é superior a um trilhão de dólares, que é composto apenas por Apple, Amazon, Microsoft e Alphabet. Sendo que seu valor de mercado já é maior que as 12 maiores montadoras de automóveis do mundo juntas. Isso mesmo somando todas elas a Tesla vale mais.

Apesar de estar lutando com problemas no fornecimento de semicondutores, algo que afeta toda a indústria automotiva, o preço da Tesla permanece imune aos contratempos causados por essa falta de chips e prolonga o caminho ascendente que assinou desde a apresentação dos resultados trimestrais na semana passada.




A empresa norte-americana superou as previsões dos analistas multiplicando seu lucro quase quatro vezes, para 1.618 milhões de dólares (1.388 milhões de euros) e faturando 13.757 milhões de dólares entre julho e setembro. Além disso, produziu 237.882 veículos, 64% a mais do que no mesmo período de 2020.

Os resultados financeiros publicados recentemente pela Tesla, para o terceiro trimestre do ano de 2021, que deveriam ser positivos, devido à produção recorde e comercialização de veículos obtidos pela empresa em um contexto em que a grande maioria dos fabricantes tradicionais foram forçados a reduzir sua produção e, até mesmo parar fábricas devido à escassez de chips, acabaram por ser realmente impressionantes, com a margem bruta melhorando 30% em relação ao trimestre anterior.

A Tesla não é uma montadora tradicional que resolveu produzir um carro elétrico, pois existem enormes diferenças entre a Tesla e os demais dos fabricantes de automóveis, sempre levando em conta que, além disso, a Tesla não é apenas uma fabricante de automóveis, mas também abrange outras áreas importantes de atuação (baterias para segmentos industriais e de consumo, teto solar, redes de carregamento de veículos, etc.).

A tecnologia e o investimento nela fazem toda diferença, agregando valor a expectativa de resultados futuros decorrentes de todo investimento em pesquisa e desenvolvimento.



Venda direta e tecnologia

Um gráfico obtido a partir de dados da SEC demonstra a diferença, pois enquanto empresas como Chrysler, GM, Toyota ou Ford investem em P & D entre US$ 784 do primeiro e US$ 1.186 do último por veículo, o investimento da Tesla nesse conceito é de US$ 2.984, aproximadamente o triplo da empresa tradicional que mais investe.

Mas o que seria esse investimento? Em primeiro lugar, em agilidade operacional. Enquanto as marcas tradicionais de veículos estão absolutamente atrasadas em tudo relacionado à eletrônica. E usam chips completamente desatualizados, cuja as fábricas de chips não estão interessadas em fabricar.

A Tesla sendo parceira dessa indústria, acaba tendo preferência por adquirir os chips mais sofisticados e que deixam maior margem nos fabricantes. Com isso, sua produção não foi interrompida. Para se ter uma ideia de comparação, entre os insumos que a Tesla usa e que as demais montadoras usam: tomemos a tecnologia de mais de 20 nanômetros, quando o estado atual da tecnologia está em torno de 2 nanômetros ou mesmo se aproximando do nanômetro).

A Tesla é praticamente parceira dessas empresas em pesquisa e desenvolvimento, co-projeta com elas seus chips e recebe, consequentemente, muito mais atenção. Se somarmos a isso a capacidade da empresa de tomar decisões de forma ágil e ajustar-se ao contexto específico do momento, reescrevendo seu software, temos uma visão clara da diferença.

Onde as montadoras tradicionais investem em vez de P&D? Muito simples: no marketing.




O investimento publicitário dessas empresas, com presença constante na mídia, está entre US$ 394 da GM e US$ 664 da Chrysler. Quanto tesla investe neste capítulo? Nada. Zero. Ele simplesmente não anuncia na mídia, e permite que os fatos falem por ela.

Esses mesmos meios de comunicação são praticamente forçados a falar sobre a empresa regularmente, o que, juntamente com as habilidades de mídia de seu CEO e o alto nível de satisfação de seus clientes, significa que a Tesla, realmente, não precisa anunciar.

A Tesla vende seus veículos diretamente aos seus usuários, sem os concessionários no meio tomando uma parte substancial da margem, você já terá ainda mais claro que a matemática vai muito bem.

Para essa diferença, devemos acrescentar a obsessão supracitada da empresa com economias de escala: tudo o que pode ser levado em conta na forma de uma curva de experiência, é.

Duas das tecnologias mais importantes da Tesla, painéis solares e baterias, estão sujeitas a economias muito fortes de escala, mas a Tesla também tenta aplicar essas mesmas curvas em praticamente tudo o que faz. Isso permite que a empresa projete curvas de aprendizagem muito mais agressivas do que as obtidas por outras empresas, e aplique, além disso, a tudo, inclusive a construção de novas fábricas.



Por último, outra diferença

Está na preocupação não tanto com a participação de mercado, mas com a participação dos clientes. A empresa tenta convencer seus usuários para que, após a aquisição de seus veículos, eles possam considerar a instalação de outros de seus produtos, como seu Powerwall, seus painéis solares ou, mais recentemente, seu seguro de carro.

O cliente ideal da Tesla não só dirige seus carros, mas gera uma parte significativa da eletricidade com a qual os recarrega usando painéis solares combinados em seu telhado e baterias para armazenamento.

O modelo de seguro, além disso, utilizando dados de condução, poderia considerar a cobrança desse seguro apenas com base no tempo ou quilômetro que o veículo passa na estrada, o que, hipoteticamente, poderia proporcionar uma vantagem de custo que tornaria o produto muito atrativo para seus usuários. Tecnologia e sustentabilidade entregando resultados financeiros, nesse universo onde todos pesquisam e se comunicam, sem ter muito tempo para o negacionismo.

(Charles Machado é consultor e advogado)


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